sábado, 19 de setembro de 2009

CARRO-CARRO E CARRO-FUN

Sempre deixei claro para todos e para mim mesmo que esta Brasilia, mesmo com toda a paixão que eu venha a nutrir por ela, é apenas um hobby. Defini que eu teria um carro-carro (na época, o Santana branco) e um carro-fun, um carro voltado para a diversão. Ou seja, o carro-carro seria aquele que me levaria para os lugares e deveria estar 100% disponível, em condições de, a qualquer tempo, pegar uma estrada, por exemplo. Era importante que ele mantivesse o máximo de originalidade e fosse tratado com seriedade, respeito e, emocionalmente falando, com um certo distanciamento.
O caso da Brasilia é diferente. É o carro da liberdade, do relaxamento, para andar nos finais-de-semana, passear com meus filhos e minha esposa (será que ela um dia topa?), ir a encontros de antigos e afins. Chamar a atenção é permitido (quase obrigatório), pois se trata do carro onde ser diferente, quase caricato, faz parte do pacote. Há, entretanto, um outro lado nesta moeda, literalmente: justamente por esta característica de lazer, um tanto supérfluo, a regra é clara: com dinheiro no bolso, investe-se nela. Sem grana, encosta-se a Beringela e espera-se o novo momento propício.
Isto posto, somente depois que consegui o meu novo emprego na Michelin e voltei a morar sozinho, me estabelecendo em Campo Grande (no conjunto de apartamentos conhecido carinhosamente como Bolla's Palace), é que voltei os olhos e o bolso novamente para a Brasa. Isto foi lá no começo de 2005.
Foi nesta época que tive a noção exata de que eu tinha um carro que, na verdade, era uma "casca" a ser cuidadosamente preenchida a meu gosto. A internet oferecia os dois mundos distintos e paralelos: um mar de acessórios e apetrechos estéticos e mecânicos extremamente disponível (salve Mercado Livre!) e as críticas em sites e blogs sobre os exageros cometidos Brasil afora. Termos como "xuning", "baianada", e indagações do tipo "como assassinar um Fusca" indicam os exemplos mais clássicos do que não se deve fazer quando o assunto é personalização. Não por acaso, o único exemplar que foge das críticas ferozes sobre suas "particularidades" é tão somente a Brasilia Amarela dos Mamonas. Até mesmo as reações ao Cadillac rosa de Elvis Presley e ao Rolls Royce psicodélico de John Lennon foram capazes de suplantar a grandeza de seus donos.

Tomado deste espírito de "liberdade vigiada", comecei a montar mais detalhadamente meu projeto. A contra-capa da minha agenda carregava o esboço de uma Brasilia 4 portas vista de cima, com várias informações ligadas e apontadas para cada ponto do carro. O tipo de roda, a cor do estofado, os equipamentos de conforto, os detalhes dos acessórios, a localização dos emblemas, tudo merecia uma referência. Algumas coisas, obviamente, foram abandonadas no desenrolar do projeto, como o neon sob os pedais e nas soleiras das portas, o que, segundo meus colegas de Michelin, transformaria a Brasilia em uma belíssima "penteadeira de p..."! Bom, percebi que não escaparia das brincadeiras e dos comentários irônicos nem se deixasse de instalar algo nela...
Outras idéias entraram em vigor. Comprei um som com entrada USB frontal e um monitor de temperatura interna / externa na viagem que fiz a trabalho para a França. Para completar, um kit de alto-falantes VolksTech (aquele com o logo da Volks cromado no meio) originais da Parati, para as portas, e um par de 6x9 para um futuro tampão sobre o motor. Este, provavelmente, vai dar "munição" para meus amigos pois, opcionalmente, ele pisca no ritmo da batida da música... Bom, talvez eles falem menos do neon sob o carro (relativamente discreto) e dos faróis de lente lisa que providenciei para a dianteira. E desviem definitivamente a atenção para equipamentos mais importantes (e, porque não dizer, improváveis) que estarei instalando e comentando aqui depois.
Outros detalhes mudaram uma centena de vezes, como as manoplas de câmbio e de freio-de-mão. Optei por modelos cromados, fugindo mais uma vez do neon excessivo. A cor dos bancos foi branca, passou pelo cinza claro, bege com laterais roxas e agora fechou no caramelo. Vai dar um bom contraste com a lataria e os detalhes cromados, e ficar elegante. Existem outros pontos onde ainda não "bati o martelo", como no esguicho d'água e nos puxadores das portas traseiras. Mas os parafusos das placas e os bicos das válvulas dos pneus estão comprados. Antena: interna, externa, no teto, "tubarão", com neon??? É, cuidado com a "penteadeira"!...
Não, não estou deveras preocupado com o falatório. Afinal, um carro que mescla os adjetivos "antigo" e "personalizado" sempre carregará a máxima "falem bem, falem mal, mas falem de mim". Deixei em definitivo a passividade para meu carro-carro e a criatividade com bom gosto para meu carro-fun. E venha o que tiver que vir depois...