sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A MALDIÇÃO DA BRASILIA ROXA!

Não se espante com o título: este capítulo é mais hilário do que trágico, e mostra a incrível capacidade de minha Beringela atrair histórias. Devidamente estacionada no pátio da Michelin aguardando seu dono ter um mínimo de grana e tempo para dar-lhe um trato, o já mencionado veículo resolve "antecipar" as coisas e, para isto, chamar atenção: eis que, "por encanto", surge o pneu traseiro esquerdo vazio... Como o estepe encontra-se furado, depois de avisado por meus colegas da situação vigente, providenciei para o trabalho um mini-compressor Schulz (conhecida marca alemã, porém produzido na China... vai entender!). Havia uma segunda dificuldade: minha Brasilia (assim como todas as que conheço) originalmente não possui isqueiro. Logo, não teria como ligar o compressor nela.
Para auxiliar nesta parte, prontificou-se meu amigo e colega Rogério, mais conhecido como "Topete" devido ao seu penteado, por assim dizer, "exótico". Ele, que tem utilizado de grande esmero na reforma de seu Puminha "Tubarão", dispôs de seu Gol "bolinha" (meio "baleado", é bem verdade) para a tarefa. Data e hora marcada, fomos nós para a operação de "resgate". E começam as surpresas... Primeiro, o compressor, ligado no isqueiro, nem deu sinal de vida... Após fazermos um teste, concluímos que o isqueiro (e não o compressor) estava inoperante. E, de quebra, além de não enchermos o pneu, ainda fomos obrigados a trocar um do Golzinho, que estava "no chão". Mas não pense voce que o título veio tão somente deste evento. O melhor ainda estava por vir...


Segunda tentativa! Véspera de Natal, trabalhando naquele dia ingrato de quatro horas lá e quatro no trânsito, contamos com a "colaboração" da rede de computadores fora do ar para termos tempo para a nova missão. Esta foi a vez de Klaus Riebold (vulgo "Alemão") prontificar-se com sua Uno. (Nota da redação: nos referimos a "sua Uno" e não ao "seu carro Uno", uma vez que, por princípio -- e especialmente bom senso -- Uno não é carro, Uno é Fiat...). Topete resolveu acompanhar-nos e igualmente prestar auxílio.
Já estacionada ao lado da Brasa, Klaus abriu a porta do passageiro, ligamos o plug no isqueiro, colocamos o compressor sobre a Uno e Topete resolveu ligá-lo para teste. Temi pela saúde do Alemão: a barulheira (algo similar a uma britadeira) sobre o teto prata da Uno fez o coração germânico de meu colega disparar! E sob os berros de "tira esta p.... do meu teto", Topete conseguiu desligar o aparelho e acabar com o estardalhaço... Tinhamos um notável "compressor-cabrito" na mão, um ser que, quando em ação, andava sozinho!
A operação de encher o pneu foi, em si, um sucesso. Tentamos ainda com o estepe que, pelo jeito, está mesmo furado. Desmontamos o aparato, guardamos tudo e, tentando fazer graça, o Alemão ainda deu a partida na Uno e se mostrou "extremamente aliviado", como se cinco minutinhos de mini-compressor fossem capazes de descarregar uma bateria. E foi nesta hora que apresentou-se a "cereja do bolo"...
Imaginando ter entrado pela porta do motorista, Alemão apertou o pino e bateu a porta do carona com o motor ainda ligado. Topete bem que tentou avisar, mas não foi tão rápido. Klaus foi à outra porta, que estava obviamente trancada. Uno ligado, todo fechado e com a chave dentro! Mesmo diante do desespero dos dois em descobrir urgentemente como cortar a ignição pelo lado de fora do carro (o Alemão havia acabado de encher o tanque para viagem), admito que fui para um canto e, disfarçando, comecei a rir! Ô situação cômica! Enquanto o dono da Uno corria para dentro do escritório em busca do telefone do chaveiro, eu e Topete, juntamente com as ferramentas da Brasilia (que é velha mas é carro!) desmontávamos o duto de gasolina junto ao filtro do tanque. Devido à alta pressão do sistema, o que fatalmente causaria um "nada econômico" vazamento de gasolina, optamos por remontar tudo e aguardar Klaus e seu chaveiro. O Alemão deve ter ficado ainda mais nervoso quando a previsão de meia hora para a chegada lhe foi informada...
Três cabeças pensantes, resolvemos tentar arrombar a Uno, e com um arame maleável, algumas idéias engenheirísticas e um mínimo de habilidade, literalmente pescamos o pino, abrimos a porta e acabamos com o pandemônio. Aí foi a hora de nós (eu e Topete) caírmos na gargalhada (com Klaus obviamente "bicudo") e sabermos das reações dos colegas que, à esta altura, por conta da ida do Alemão ao escritório, já estavam informados de tudo. Foi o assunto do dia, e não era para menos. Klaus, entre alguns xingamentos, bradava a todos que se mantivessem longe de meu bólido, com o intuito de evitar o que chamou de "a Maldição da Brasília Roxa". Alexandre fez seguidas ligações para o celular do Alemão, ameaçando inclusive abandonar sua folga para participar da festa! Brincamos demais com o cara, pegamos muito no pé dele, rolamos de tanto rir, mas a melhor reação foi a de nosso chefe Pires, transcritas aqui a partir das palavras do próprio Alemão: "Todos estes anos nunca vi o Pires rir tanto assim, deste jeito... e era de mim!"...
Com todo o acontecido, realmente testamos o coração do nosso amigo comedor de chucrute de idade avançada, evidenciado pelos seus cabelos brancos como a barba de Papai Noel. E antes da noite festiva chegar, eu já havia, com sobras, ganho meu presente!

sábado, 12 de dezembro de 2009

A MELHOR MANEIRA DE IR MAIS LONGE

Uma das dificuldades que encontro para bem manter minha Beringela é que não possuo uma garagem ou outro lugar coberto e seguro para guardá-la. No começo, quando morava em Campinas, até tinha esta condição, mas o trabalho ainda estava bem no início. Claro que, com todas as intervenções que tenho feito nela e considerando as várias idas e vindas relatadas neste blog, ela fatalmente tem passado mais tempo em oficinas do que na rua. E morar no Rio de Janeiro ainda me impõe outras situações peculiares sobre dois assuntos, um consequência do outro: falta de segurança de toda ordem (roubo, vandalismo, enchente, etc.) e custo altíssimo para realizar o aluguel de uma garagem. Não se encontra nada por menos de 200 reais mensais, um dinheiro que serviria para se fazer ou adquirir outras coisas mais interessantes. Basta exemplificar da seguinte maneira: quatro meses de garagem (um período nem tão extenso assim) seriam suficientes para cobrir os custos dos bancos elétricos dianteiros e das rodas diamantadas Orbital... Em um ano eu pagaria a última pintura realizada nela.
Como a grana envolvida norteia as possibilidades sobre o carro, optei por abrir mão deste "luxo" e sobreviver sem garagem mesmo. Opção perigosa, diga-se de passagem, pois, como comumente se diz, no "tempo" o carro "se acaba", e o barato pode sair caro. Sol e chuva são inimigos declarados e muito eficientes em seus intentos. Quem sofre principalmente é a pintura, que pode ficar manchada, queimada, danificada de outras formas (graças a Deus chuvas de granizo têm sido raras no Rio) e ser atacada pela sua "amada amante": a ferrugem. O verdadeiro "inferno laranja"...
Depois do sequestro da brasa, ela já foi resgatada nesta condição ruim, com parte da pintura fosca, vários pontos de ferrugem e bolhas, e amassados em outros cantos. E como estas avarias estão "democraticamente" espalhadas pela carroceria, a única solução aceitável é a reforma geral da lata. Aliás, cabe aqui uma promessa, e você será minha testemunha: será a última vez que jogarei tinta neste carro. Três tentativas são mais do que suficientes para esgotar minha paciência e os recursos financeiros "aceitáveis" para a criação do meu "bólido"...
Para mantê-la sem teto porém segura, tenho apelado (admito) para o estacionamento da empresa onde trabalho, a Michelin. E não só porque é seguro e de graça, mas também porque todos os mecânicos e auto-peças de que faço uso na reforma estão em Campo Grande, bairro do subúrbio onde fica a fábrica. E em Campo Grande, os custos são bem inferiores aos da Zona Sul do Rio, onde moro.



Claro que, como tudo que envolve esta Brasilia, situações inusitadas se criam. Em uma delas, havia uma Brasília azul marinho em uma condição bem pior do que a minha, nitidamente abandonada no estacionamento, com lama (poeira + chuva) e folhas literalmente cobrindo o carro. Em verdade, as únicas coisas que se salvavam naquele carro eram as rodas, que mesmo assim já pediam reforma. Depois de longo período de hibernação, a segurança da empresa a retirou de lá, sabe-se lá como... A alegação era de estar criando foco de dengue, na época, o assunto do momento.
Para não "sobrar" para a minha brasa, que co-habitava aquele espaço, decidi aproveitar e levá-la ao eletricista para acertar algumas coisas. E, acredite, a "ditacuja" resolveu estancar no portão de saída da Michelin... Diagnóstico? Falta de gasolina, com o ponteiro marcando mais do que a reserva. E aí a segurança "se fez": pediu meu número de registo, CPF, identidade, ramal, mostrar os documentos da brasa e tudo mais que passava na cabeça do "guardinha". Estava vendo a hora em que iam pedir o endereço da fábrica da Volks e o nome do cara que montou o pisca dianteiro esquerdo em 1978... Depois do já aguardado sermão por manter o carro por longos periodos lá parado, e sem ajuda nenhuma para empurrar a beringela para fora das suas dependências, providenciei a gasolina e fui em frente.
Depois de mais alguns meses de serviços nela, voltamos para a Michelin e seu estacionamento. Agora, com as rodas Orbital instaladas (e, por isto, menos aparência de carro abandonado), a segurança não tem incomodado. Com mais linhas de ônibus disponibilizadas pela empresa para os funcionários, estão sobrando vagas. Porém, como não podem faltar emoções, agora um dos pneus e o estepe esvaziaram... Providenciei um mini-compressor "ching ling" para resolver a situação antes que "os caras" me perturbem. De lá, provavelmente, vou levá-la para trocar seus pneus. Por pneus Michelin, claro. Afinal, como diz o slogan, usar Michelin é a melhor maneira de ir mais longe. Nem que seja para longe de seu estacionamento!...