sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A MALDIÇÃO DA BRASILIA ROXA!

Não se espante com o título: este capítulo é mais hilário do que trágico, e mostra a incrível capacidade de minha Beringela atrair histórias. Devidamente estacionada no pátio da Michelin aguardando seu dono ter um mínimo de grana e tempo para dar-lhe um trato, o já mencionado veículo resolve "antecipar" as coisas e, para isto, chamar atenção: eis que, "por encanto", surge o pneu traseiro esquerdo vazio... Como o estepe encontra-se furado, depois de avisado por meus colegas da situação vigente, providenciei para o trabalho um mini-compressor Schulz (conhecida marca alemã, porém produzido na China... vai entender!). Havia uma segunda dificuldade: minha Brasilia (assim como todas as que conheço) originalmente não possui isqueiro. Logo, não teria como ligar o compressor nela.
Para auxiliar nesta parte, prontificou-se meu amigo e colega Rogério, mais conhecido como "Topete" devido ao seu penteado, por assim dizer, "exótico". Ele, que tem utilizado de grande esmero na reforma de seu Puminha "Tubarão", dispôs de seu Gol "bolinha" (meio "baleado", é bem verdade) para a tarefa. Data e hora marcada, fomos nós para a operação de "resgate". E começam as surpresas... Primeiro, o compressor, ligado no isqueiro, nem deu sinal de vida... Após fazermos um teste, concluímos que o isqueiro (e não o compressor) estava inoperante. E, de quebra, além de não enchermos o pneu, ainda fomos obrigados a trocar um do Golzinho, que estava "no chão". Mas não pense voce que o título veio tão somente deste evento. O melhor ainda estava por vir...


Segunda tentativa! Véspera de Natal, trabalhando naquele dia ingrato de quatro horas lá e quatro no trânsito, contamos com a "colaboração" da rede de computadores fora do ar para termos tempo para a nova missão. Esta foi a vez de Klaus Riebold (vulgo "Alemão") prontificar-se com sua Uno. (Nota da redação: nos referimos a "sua Uno" e não ao "seu carro Uno", uma vez que, por princípio -- e especialmente bom senso -- Uno não é carro, Uno é Fiat...). Topete resolveu acompanhar-nos e igualmente prestar auxílio.
Já estacionada ao lado da Brasa, Klaus abriu a porta do passageiro, ligamos o plug no isqueiro, colocamos o compressor sobre a Uno e Topete resolveu ligá-lo para teste. Temi pela saúde do Alemão: a barulheira (algo similar a uma britadeira) sobre o teto prata da Uno fez o coração germânico de meu colega disparar! E sob os berros de "tira esta p.... do meu teto", Topete conseguiu desligar o aparelho e acabar com o estardalhaço... Tinhamos um notável "compressor-cabrito" na mão, um ser que, quando em ação, andava sozinho!
A operação de encher o pneu foi, em si, um sucesso. Tentamos ainda com o estepe que, pelo jeito, está mesmo furado. Desmontamos o aparato, guardamos tudo e, tentando fazer graça, o Alemão ainda deu a partida na Uno e se mostrou "extremamente aliviado", como se cinco minutinhos de mini-compressor fossem capazes de descarregar uma bateria. E foi nesta hora que apresentou-se a "cereja do bolo"...
Imaginando ter entrado pela porta do motorista, Alemão apertou o pino e bateu a porta do carona com o motor ainda ligado. Topete bem que tentou avisar, mas não foi tão rápido. Klaus foi à outra porta, que estava obviamente trancada. Uno ligado, todo fechado e com a chave dentro! Mesmo diante do desespero dos dois em descobrir urgentemente como cortar a ignição pelo lado de fora do carro (o Alemão havia acabado de encher o tanque para viagem), admito que fui para um canto e, disfarçando, comecei a rir! Ô situação cômica! Enquanto o dono da Uno corria para dentro do escritório em busca do telefone do chaveiro, eu e Topete, juntamente com as ferramentas da Brasilia (que é velha mas é carro!) desmontávamos o duto de gasolina junto ao filtro do tanque. Devido à alta pressão do sistema, o que fatalmente causaria um "nada econômico" vazamento de gasolina, optamos por remontar tudo e aguardar Klaus e seu chaveiro. O Alemão deve ter ficado ainda mais nervoso quando a previsão de meia hora para a chegada lhe foi informada...
Três cabeças pensantes, resolvemos tentar arrombar a Uno, e com um arame maleável, algumas idéias engenheirísticas e um mínimo de habilidade, literalmente pescamos o pino, abrimos a porta e acabamos com o pandemônio. Aí foi a hora de nós (eu e Topete) caírmos na gargalhada (com Klaus obviamente "bicudo") e sabermos das reações dos colegas que, à esta altura, por conta da ida do Alemão ao escritório, já estavam informados de tudo. Foi o assunto do dia, e não era para menos. Klaus, entre alguns xingamentos, bradava a todos que se mantivessem longe de meu bólido, com o intuito de evitar o que chamou de "a Maldição da Brasília Roxa". Alexandre fez seguidas ligações para o celular do Alemão, ameaçando inclusive abandonar sua folga para participar da festa! Brincamos demais com o cara, pegamos muito no pé dele, rolamos de tanto rir, mas a melhor reação foi a de nosso chefe Pires, transcritas aqui a partir das palavras do próprio Alemão: "Todos estes anos nunca vi o Pires rir tanto assim, deste jeito... e era de mim!"...
Com todo o acontecido, realmente testamos o coração do nosso amigo comedor de chucrute de idade avançada, evidenciado pelos seus cabelos brancos como a barba de Papai Noel. E antes da noite festiva chegar, eu já havia, com sobras, ganho meu presente!

sábado, 12 de dezembro de 2009

A MELHOR MANEIRA DE IR MAIS LONGE

Uma das dificuldades que encontro para bem manter minha Beringela é que não possuo uma garagem ou outro lugar coberto e seguro para guardá-la. No começo, quando morava em Campinas, até tinha esta condição, mas o trabalho ainda estava bem no início. Claro que, com todas as intervenções que tenho feito nela e considerando as várias idas e vindas relatadas neste blog, ela fatalmente tem passado mais tempo em oficinas do que na rua. E morar no Rio de Janeiro ainda me impõe outras situações peculiares sobre dois assuntos, um consequência do outro: falta de segurança de toda ordem (roubo, vandalismo, enchente, etc.) e custo altíssimo para realizar o aluguel de uma garagem. Não se encontra nada por menos de 200 reais mensais, um dinheiro que serviria para se fazer ou adquirir outras coisas mais interessantes. Basta exemplificar da seguinte maneira: quatro meses de garagem (um período nem tão extenso assim) seriam suficientes para cobrir os custos dos bancos elétricos dianteiros e das rodas diamantadas Orbital... Em um ano eu pagaria a última pintura realizada nela.
Como a grana envolvida norteia as possibilidades sobre o carro, optei por abrir mão deste "luxo" e sobreviver sem garagem mesmo. Opção perigosa, diga-se de passagem, pois, como comumente se diz, no "tempo" o carro "se acaba", e o barato pode sair caro. Sol e chuva são inimigos declarados e muito eficientes em seus intentos. Quem sofre principalmente é a pintura, que pode ficar manchada, queimada, danificada de outras formas (graças a Deus chuvas de granizo têm sido raras no Rio) e ser atacada pela sua "amada amante": a ferrugem. O verdadeiro "inferno laranja"...
Depois do sequestro da brasa, ela já foi resgatada nesta condição ruim, com parte da pintura fosca, vários pontos de ferrugem e bolhas, e amassados em outros cantos. E como estas avarias estão "democraticamente" espalhadas pela carroceria, a única solução aceitável é a reforma geral da lata. Aliás, cabe aqui uma promessa, e você será minha testemunha: será a última vez que jogarei tinta neste carro. Três tentativas são mais do que suficientes para esgotar minha paciência e os recursos financeiros "aceitáveis" para a criação do meu "bólido"...
Para mantê-la sem teto porém segura, tenho apelado (admito) para o estacionamento da empresa onde trabalho, a Michelin. E não só porque é seguro e de graça, mas também porque todos os mecânicos e auto-peças de que faço uso na reforma estão em Campo Grande, bairro do subúrbio onde fica a fábrica. E em Campo Grande, os custos são bem inferiores aos da Zona Sul do Rio, onde moro.



Claro que, como tudo que envolve esta Brasilia, situações inusitadas se criam. Em uma delas, havia uma Brasília azul marinho em uma condição bem pior do que a minha, nitidamente abandonada no estacionamento, com lama (poeira + chuva) e folhas literalmente cobrindo o carro. Em verdade, as únicas coisas que se salvavam naquele carro eram as rodas, que mesmo assim já pediam reforma. Depois de longo período de hibernação, a segurança da empresa a retirou de lá, sabe-se lá como... A alegação era de estar criando foco de dengue, na época, o assunto do momento.
Para não "sobrar" para a minha brasa, que co-habitava aquele espaço, decidi aproveitar e levá-la ao eletricista para acertar algumas coisas. E, acredite, a "ditacuja" resolveu estancar no portão de saída da Michelin... Diagnóstico? Falta de gasolina, com o ponteiro marcando mais do que a reserva. E aí a segurança "se fez": pediu meu número de registo, CPF, identidade, ramal, mostrar os documentos da brasa e tudo mais que passava na cabeça do "guardinha". Estava vendo a hora em que iam pedir o endereço da fábrica da Volks e o nome do cara que montou o pisca dianteiro esquerdo em 1978... Depois do já aguardado sermão por manter o carro por longos periodos lá parado, e sem ajuda nenhuma para empurrar a beringela para fora das suas dependências, providenciei a gasolina e fui em frente.
Depois de mais alguns meses de serviços nela, voltamos para a Michelin e seu estacionamento. Agora, com as rodas Orbital instaladas (e, por isto, menos aparência de carro abandonado), a segurança não tem incomodado. Com mais linhas de ônibus disponibilizadas pela empresa para os funcionários, estão sobrando vagas. Porém, como não podem faltar emoções, agora um dos pneus e o estepe esvaziaram... Providenciei um mini-compressor "ching ling" para resolver a situação antes que "os caras" me perturbem. De lá, provavelmente, vou levá-la para trocar seus pneus. Por pneus Michelin, claro. Afinal, como diz o slogan, usar Michelin é a melhor maneira de ir mais longe. Nem que seja para longe de seu estacionamento!...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

NEM TÃO LOUCO ASSIM...

Quando eu relato algumas mudanças que promovi ou promoverei na minha Brasilia, alguns amigos logo me taxam de louco ou, no mínimo, alguém dotado de mal gosto. Ok, gosto, como sempre disse o velho ditado, não se discute mesmo. Nem todos conseguem (e nem precisam) aceitar e apreciar uma pintura roxa, bem como os bancos elétricos, os retrovisores de Honda Fit ou mesmo angel eyes. Mas é fato que, em matéria de Brasilia, eu até que mantenho uma linha de sanidade, principalmente se comparado aos exemplos que encontrei por aí:

Mini-Brasilia: a solução para os problemas de espaço das grandes cidades

Brasilia Baja: a versão nascida naturalmente após o sucesso do Fusca Baja

Brasilia Adventure: apropriada para trilhas leves

Brasilia Off-Road: pronta para encarar qualquer desafio

Brasilia Pick-up: corrigindo um erro histórico da Volks em não lançar uma pick-up pequena antes da Fiat

Brasilia Pick-up II - Versão para feirantes, agricultores e pecuaristas

Brasilia Pick-up Cabine Extendida: se Strada e Saveiro podem, porque não?

Brasilia Obra de Arte: mais uma criação de Andy Warhol?

Brasilia Limousine: nossa Brasa concorrendo com Mercedes e BMW

Brasilia Conversível: ideal para este nosso país ensolarado

Brasilia Conversível II: versão sóbria e requintada, para desfilar na cidade

Brasilia Safari: para um passeio com os gringos pelos encantos (e favelas) do Rio

Brasilia Dragster: o sonho de uma Brasilia a mais de 200 km/h

Brasilia Recycle: enquanto ela mesma não é reciclada, ajuda a reciclar

Como se pode ver, quando o assunto é Brasilia, não sou eu o único louco perdido por aí... Ou vai dizer que minha Beringela não lhe parece agora um carro bem "normal"?...
56 abraços!

sábado, 31 de outubro de 2009

O SEQUESTRO

Este é o capítulo mais triste e angustiante na história da minha Brasilia. É fato que não há relação que não tenha altos e baixos, momentos muito bons e outros bem difíceis. Mas acho que nada supera o que se sente quando corremos o risco de perder algo ou alguém muito querido. É quando uma relação pode chegar ao fim contra a nossa vontade. E foi por isto mesmo que passei.
Minha esposa estava grávida de 6 meses do Vitor, ou seja, estávamos naquele momento de felicidade e espectativa, e que também, ao mesmo passo, exige cuidados. Minha Brasilia estava com a forração do teto e das laterais prontas, e agora restava a montagem, principalmente do para-brisa, para eu dar sequencia ao trabalho. As peças (vidros, para-choques e outras) estavam com o Galo, na sua oficina. Todo o processo junto ao "seu" Adilson (tapeceiro) levou um tempo maior do que o desejado. E foi neste interim que veio a primeira surpresa: Galo e Vampirinho haviam desfeito a parceria e fechado a oficina. E foi assim, sem avisar mesmo. Na base do "ouvi falar" e contando com a ajuda do amigo Jesiel, acabei encontrando Galo dividindo oficina com outro mecânico (de nome André), alguns quilômetros longe da primeira. Felicidade no reencontro, tratei de trazer a Brasa para Galo montar os vidros; afinal, isto estava incluso no valor já pago pelo serviço lanternagem + pintura. Uma semana depois voltei para retirar o carro pronto. E veio a segunda surpresa...
A mecânica onde Galo agora trabalhava era um pequeno galpão bastante modesto para a tarefa de abrigar mecânica e lanternagem. Quando um pequeno acidente aconteceu, com a traseira de um outro carro amassando uma das portas da Beringela, isto ficou mais que evidente. Galo, por sua vez, se comprometeu a levar o carro para sua casa (onde haveria mais espaço) e realizar o "reparo em garantia". Mais duas semanas se passaram, e a pior das surpresas se deu: procurando por Galo na oficina, ninguém (principalmente seu parceiro André) sabia de seu paradeiro.
Faziam mais de dez dias que Galo e minha Brasilia haviam sumido, e ninguém sabia para onde nem o porquê. Ficamos sabendo algum tempo depois que ele havia pego dinheiro com agiotas e não honrado seus compromissos. Como soubemos? Os credores passaram na oficina, ameaçando inclusive levar equipamentos como forma de pagamento. Ou seja, meu carro estava com um cara que devia grana para pessoas perigosas e eu no meio deste "fogo cruzado"...
Perdi alguns domingos procurando por ele, conheci sua mãe e seu irmão, que também não sabiam onde ele estava, e também foram importunados pelos agiotas. Senti pena dela, pois parecia ser boa pessoa e não merecer esta situação. O celular de Galo, obviamente, seguia desligado. Fiz amizade com os vizinhos da oficina, para saber se havia alguém lá sem ter que me deslocar. Conheci a avó de André, outros clientes de Galo e mecânicos amigos em busca de informação. Importunei Vampirinho e outros conhecidos, mas nada de Galo aparecer. Por fim, sua mãe, extremamente revoltada e decepcionada com a situação criada por seu filho, conseguiu contatá-lo por telefone e falar sobre os acontecimentos. Ele estava na casa de um outro mecânico, procurando trabalhar e levantar alguma grana, bem longe dali.
Neste período, todo tipo de sugestão me foi dada: procurar a polícia, colocar uns "caçadores de devedores" para achá-lo, e mesmo desistir de tudo, para não se envolver em situações ainda mais perigosas. Diziam que já deveria ter virado buggy ou ter sido vendida em peças, em algum desmanche. E eu seguia tentando resolver tudo do modo mais honesto possível. Foi quando, em uma das visitas sem esperança à oficina de André, encontrei o mesmo com um dos olhos bem inchado. Pensei logo que os agiotas (que nesta altura sabiámos se tratar de "policiais") haviam voltado e dado uma surra nele. Qual não foi a surpresa, desta vez boa, quando soube o olho ruim era resultado de um cavaco no olho usando o esmeril, e que André tinha uma  novidade boa para mim: Galo havia ligado e dito onde estava a Brasilia. E, pasmem, ela "descansava" mais próxima do que podia se imaginar: na casa dos pais de André. Galo, que era amigo do irmão de André, havia a deixado lá antes de sumir.
O resumo: reencontrei a Brasa roxa portando, além da porta ainda amassada, um "encostão" no bico do capô, um "podre" na chapa de cobertura do motor e vários pontos da "excepcional" pintura de Galo já soltando bolhas... O vidro da porta havia ficado aberto e, no interior da mesma, "laranja" pela água empossada, uma "criação" de aedes aegypti...
E depois de um mês e meio de angústia, preocupado em não causar ansiedade excessiva à minha esposa e meu herdeiro em sua barriga, senti um alívio realmente indescritível. E o "sequestro" da Brasilia roxa, que não teve pedido de resgate, ainda está sendo pago através dos serviços de recuperação da mesma.
Pode ter certeza que sei o que sente quem já teve seu carro roubado, e agora me solidarizo totalmente. Desculpe-me pelo texto longo e tortuoso, mas infelizmente isto também é parte da história "beringélica". E perdão por não ter ilustrado com uma foto tudo que relatei. Afinal, não fiz (e costumo não fazer) questão de registrar de modo fotográfico uma passagem tão dolorosa.

sábado, 24 de outubro de 2009

TINTA II - O RETORNO

Nos meios industriais, entre os engenheiros responsáveis por definir métodos, processos, custos e investimentos, há uma palavrinha que é abominada por todos. Uma verdadeira unanimidade, motivo de vários estudos e proposições para evitar sua presença. Um pesadelo bem real chamado RETRABALHO... Ou, como diz meu chefe, o "bom da segunda vez". E não é difícil entender o porquê. Nestes dias onde tempo e dinheiro são os bens mais escassos, o Retrabalho é um ávido devorador destes, e faz merecer o "R" maiúsculo, como um nome próprio, dada sua importância.
Reformar um carro também é um processo e, como tal, igualmente sujeito a seus desperdícios e Retrabalhos. Só que, neste caso, como não sou uma grande empresa ou possuo fontes inesgotáveis de renda, quando acontece é ainda mais "doído"... Talvez não fosse tão sentido se originado de uma mudança de gosto ou conceito na personalização do "bólido". Mas quando a origem é falta de qualidade no serviço executado (e que voce já considerava caso encerrado), é terrível!
Quando fui retirar a Brasilia da oficina de pintura, ainda em Campinas, o cheiro de tinta tomava conta do carro. Tudo levava a crer que, depois de muito me enrolar, o serviço havia sido feito às pressas, para "livrar a cara" como se diz. O que era uma desconfiança minha se mostrou uma realidade logo quando as primeiras bolhas na tinta apareceram. Os entendidos, ao observar as erupções, diziam ser fruto de umidade que teria ficado sob a tinta e estaria agora aflorando. Ou ainda gordura que não teria sido retirada antes da pintura. O fato é que, em qualquer uma das hipóteses, o descuido e descaso destes "profissionais" me levaram a ter um baita Retrabalho...
Como a minha parcela de culpa era não estar próximo, acompanhando o serviço, tratei de buscar alguém que pudesse estar sempre vendo, seguindo cada passo do "processo pintura". Assim, acabei optando por delegar esta tarefa ao lanterneiro que atendia pela alcunha de "Galo". Galo tinha este apelido em função do personagem dos Looney Tunes, com o peito avantajado contrastando com as pernas mais finas. Ou o que também costumamos chamar de "peito de pombo".


Galo era sócio do meu mecânico Anderson "Vampirinho" na oficina que ficava em frente ao meu trabalho. Deste modo (teoricamente) estaria resolvido o problema de acompanhamento do serviço. Além disso, Galo dizia ter participado de treinamentos promovidos por fabricantes de tintas, o que o credenciava (também teoricamente) como um bom profissional.
O fato é que eu, apesar da experiência anterior ruim, ainda me "dei ao luxo" de cometer alguns equívocos. O primeiro: não acompanhar um trabalho anterior completo feito por Galo. Se tivesse feito isto, talvez teria percebido que grande parte do serviço (principalmente a parte mais pesada) era delegada aos "aprendizes" dele, e a rotatividade dos aprendizes era alta. Teria visto também a sujeira do local, apesar do fato de existir uma "estufa" (uma sala mal fechada dotada de algumas lâmpadas incandecentes) para secagem. E isto misturado ao ambiente pequeno, bagunçado e compartilhado de mecânica, lanternagem e pintura.
Outra "falha nossa" foi não ter toda a grana na mão, o que me fez propor um parcelamento e resultou no pagamento quitado antes do término do serviço. E a partir deste ponto, Galo passaria a colocar os outros serviços menores na frente do meu, para levantar dinheiro. E como voce verá mais tarde, gestão de recursos financeiros não é propriamente "o forte" do Galo...
Apesar dos pesares, achei que tudo andava bem ou, melhor dizendo, vagarosamente bem. Havia comprado pessoalmente os produtos usados no trabalho (marca PPG, de renome), as chapas que ele encomendava me pareciam de boa procedência, e tudo era executado em uma sequência lógica.
Chegando no momento da montagem, fui orientado a mandar fazer a forração do teto e das colunas antes da colocação dos vidros e borrachas. Me pareceu correto e, com a dica de um cliente do eletricista Gilberto (que havia reformado um Karmann-Ghia), procurei o senhor Adilson. Apesar de algumas "pelejas" sobre a cor e o material do teto, ele realizou um serviço de bom nível. Houveram algumas dificuldades, por assim dizer, "logísticas" para levar o carro ao "seu" Adilson: tinha que ser em dias de bom tempo (a Brasa estava sem vidros), sem policia na rua (fatalmente parariam aquele "esqueleto" de carro) e sem trabalho (ou seja, somente aos sábados). Isto, juntado ao tempo para execução do serviço, foi suficiente para que umas surpresas se armassem no horizonte. Mas estas surpresas (e seus desdobramentos) merecem um post exclusivo...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

UMA BRASILIA "INTERNACIONAL"

Minha Brasilia é um carro "internacional". E não digo isto por saber que a Brasilia 4 portas foi um carro criado, prioritariamente, para exportação. De fato, isto aconteceu: desde 1974 era produzida e exportada para vários países, como Nigéria, Uruguai, Filipinas, Argélia, África do Sul e Portugal. Em alguns desses recebeu o "lindo" nome de VW Igala... Gostos à partem, hoje, independente do número de portas, Brasilias podem ser encontradas em diversos lugares ao redor do mundo, como Argentina, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos e México, este último o único país que a produziu, além do Brasil. Contudo, da terra do nacho, chili e guacamole só saíram brasas de duas portas. Azar deles...
O fato é que me refiro à Beringela como "internacional" pela origem dos itens que a compõem. Já mencionei aqui os vidros enviados de Florianópolis com direito a barata vitaminada de "brinde"... Mas Floripa é "logo ali" se comparado com a origem dos bancos elétricos de Tempra que adquiri via ML (Mercado Livre): eles estavam montados em um Santa Matilde de um feliz proprietário morador de... Belém do Pará! A distância rodoviária entre Rio e Belém é da ordem de 3500 quilômetros... Não por acaso, achei os 100 reais da transportadora (do total de 400 gastos na brincadeira) uma verdadeira pechincha. O banco do motorista veio sem o apoio de braço. Alguém se dispõe a rodar este tanto para ir lá procurá-lo??
Por outros 400 reais obtive as rodas diamantadas modelo Orbital aro 14. O curioso, neste caso, não foi tanto a origem (Osasco-SP), mas a ajuda promovida por uma grande amiga, responsável pelas remessas de uma transportadora paulista. Ela realizou a coleta e, na entrega, feita no estacionamento da empresa onde trabalho, me impressionou o cuidado dispensado aos aros: embalagens de plástico-bola individuais e, apesar da chuva chata que caía, nem uma gota d'água em contato com as rodas.


Outro caso foi mais, por assim dizer, "emocionante" de se tratar. Talvez voce não saiba que as maçanetas da Brasilia 4 portas são originais do Passat LSE que seria, em versão remodelada, posteriormente exportado para o Iraque. O fato é que a minha Brasilia, em mais um dos mistérios que rondam este carro, veio com  maçanetas dianteiras (com furo para chave) no lugar das traseiras. Resgatando a originalidade do carro, apelei mais uma vez para o ML, onde encontrei as devidas nas mãos de um vendedor em Manaus. Negociação concretizada, pagamento feito e... uma demora angustiante. Um e-mail, dois e-mails e nada. Por fim, depois de um mês de espera tive que recorrer mesmo a um interurbano. Nervoso que estava, comecei o papo com "dois quentes, três fervendo" até ouvir sua história: seu irmão havia sofrido um acidente, capotado o carro e, depois de longo tempo no hospital, veio a falecer. Com tudo isto, o vendedor pediu desculpas e se comprometeu a enviar minha encomenda junto com as que estava devendo aos demais clientes. Preciso dizer o quão "sem jeito" fiquei com a situação toda? E mais alguns dias chegaram as maçanetas...
Menos trágico e mais curioso é o fato de um dos retrovisores de Honda Fit com pisca (ML mais uma vez) ter sido encontrado no porta-malas do carro recém-adquirido pelo vendedor. Ou seja, ele e (muito menos) eu não temos a menor idéia da origem da peça. Rio, Salvador, Paris, Botswana??? Sabe-se lá...
Sob outros olhares, pode-se dizer que a Beringela se torna "internacional" conforme se torna conhecida por pessoas de várias localidades nos fóruns que participo (como o Fusca Brasil - http://www.forumfuscabrasil.com/), por aqueles que lêem este blog, e pelos parceiros de outros blogs de mesmo tema, como o amigo "Mermo", dono da gloriosa Madame 75, e sua carinhosa postagem (veja em http://vwbr.blogspot.com/2009/09/dificeis-de-serem-vistas.html).
Agora, de internacional mesmo, literalmente falando, são três itens que trouxe de uma viagem a trabalho à França: um MP3 player de uma marca "super conhecida" (Tokai) made in France, um conjunto de piscas-leds para os bicos dos pneus e um curioso display medidor de temperatura interna e externa, que deve "casar" bem com o ar condicionado da brasa roxa.
Como se vê, não só de componentes tupiniquins se faz um carro com um nome pra lá de patriótico...

sábado, 26 de setembro de 2009

ELES SÃO DA FAMÍLIA

É tão evidente quanto parece: um aficcionado por carros, principalmente apreciador de antigos, depende de bons profissionais para que seus doces sonhos não se transformem em amargos pesadelos. Pessoas capazes de traduzir os seus desejos em trabalho honesto, com qualidade e, de preferência, sem limpar sua carteira para isso. Pois, acredite: alguns bons profissionais, sem pompa nem circunstância, cobram o justo e superam suas espectativas, enquanto alguns ditos "especialistas", em troca de sua grana, lhe devolvem dor-de-cabeça. Dependendo do caso, uma baita enxaqueca...
Como me mudei para o bairro de Campo Grande, na cidade do Rio, tive que recomeçar e buscar por bons profissionais para cuidar dos meus "filhos" Santana e Brasilia. Aqui cabe um parêntese rápido: quando alguém mencionar seus carros como membros da família, não despreze a informação. Quem cuida de um carro como ele deve ser cuidado tem mais um familiar sim, que o acompanha nos passeios e viagens, que auxilia nos momentos de mudança (no meu caso, literalmente, na mudança) e que, em contrapartida, precisa ser alimentado (combustível), levado ao médico (mecânico), ter higiene (duchas e lavagens super detalhadas) e, pasmem, eventualmente fazer até tratamento de pele (polimento)...
Voltando, vou mencionar aqui alguns mecânicos, lanterneiros e afins que participaram ou ainda participam da "vida" da minha Brasa Beringela, e talvez voce concorde que um carro pode ter uma "vida social", passar por momentos de progresso e outros de sofrimento em função das pessoas que atravessam seu caminho.
Na minha primeira necessidade mecânica em "Big Field", procurei a oficina mais próxima da Michelin, e acabei encontrando Anderson "Vampirinho", que recebe este apelido pelo formato dos dentes mesmo, e não por "sugar" a grana da carteira dos clientes. Diferente disto, ele deixa claro que existe quem tenha na mecânica uma vocação, e não apenas um modo de sobrevivência. Não por acaso, foi ele que deixou o motor da Brasa trabalhando como um relógio. E me deixou curioso para ver o sonho dele de montar um Maverick V8 concretizado.
Outro que queria (e, neste caso, conseguiu) reformar um Maverick foi o eletricista Gilberto. Aliás, chamá-lo de eletricista é pouco para sua capacidade. Ele é um LOUCO mesmo! Foi ele o responsável por instalar o ar condicionado, os vidros elétricos, os retrovisores elétricos e toda a iluminação interna e externa da Brasilia. O ar é um caso à parte: voce só descobre que ela tem climatização quando abre a tampa do motor. Tudo foi feito de modo que se aproveitassem as saídas de ar do painel original, sem deixar notar que se trata de uma adaptação. É o que acontece quando dois loucos se encontram: retrovisores elétricos do Honda Fit com pisca (inspiração tirada da foto abaixo), vidros elétricos nos puxadores de porta do Fiat Tipo (detalhe: os vidros das quatro portas têm comando elétrico), neon sob o carro, no interior e no painel de instrumentos, e "angel eyes" (aqueles aros iluminados sobre os faróis) no melhor estilo BMW. Moleza para alguém, como ele, já instalou um motor 2.0 de Santana em uma Kombi "jarrinha"...


Na oficina do Gilberto trabalha também o Mauro, disparado o cara mais humilde e honesto que conheço neste ramo. Algo difícil de se encontrar mesmo. Foi ele que, entre outras coisas, resolveu um problema crônico de quebra do calço da caixa de câmbio e, junto com o Gilberto, providenciou a furação do cubo e a posterior montagem das rodas Orbital aro 14 (originais do Gol GTi 91) no meu bólido. Corro o risco destes dois se juntarem um dia para me cobrar o "aluguel" do espaço na oficina, dos meses em que a grana era curta e o carro não podia sair de lá...
E para fechar lembrando de outros para os quais devo "aluguel", não posso deixar de mencionar o Luiz da Fibra e o amigo Nei. Luiz ganhou este "sobrenome" por ser um especialista em fibra-de-vidro. Reza a lenda que já recuperou mais de 30 Pumas. Talvez o cheiro da resina tenha sido o responsável por seu jeito meio "elétrico" de ser, mas sem ele a Brasa não teria hastes de limpadores do para-brisa em inox, para-choques remontados e outros detalhes imprecindíveis. Já o Nei, em sua oficina Neicar, talvez seja mais lembrado por ser o único a saber regular perfeitamente o ponto do meu Santana carburado, mas sua contribuição na Brasilia também repete o grau de importância: são dele os freios.
Estas são pessoas que eventualmente passam mais tempo com minha "filha" do que eu mesmo, e em certos momentos se preocupam com ela o mesmo tanto. Assim, se genros são considerados parte da família, eles agora (nada mais justo) também são.

sábado, 19 de setembro de 2009

CARRO-CARRO E CARRO-FUN

Sempre deixei claro para todos e para mim mesmo que esta Brasilia, mesmo com toda a paixão que eu venha a nutrir por ela, é apenas um hobby. Defini que eu teria um carro-carro (na época, o Santana branco) e um carro-fun, um carro voltado para a diversão. Ou seja, o carro-carro seria aquele que me levaria para os lugares e deveria estar 100% disponível, em condições de, a qualquer tempo, pegar uma estrada, por exemplo. Era importante que ele mantivesse o máximo de originalidade e fosse tratado com seriedade, respeito e, emocionalmente falando, com um certo distanciamento.
O caso da Brasilia é diferente. É o carro da liberdade, do relaxamento, para andar nos finais-de-semana, passear com meus filhos e minha esposa (será que ela um dia topa?), ir a encontros de antigos e afins. Chamar a atenção é permitido (quase obrigatório), pois se trata do carro onde ser diferente, quase caricato, faz parte do pacote. Há, entretanto, um outro lado nesta moeda, literalmente: justamente por esta característica de lazer, um tanto supérfluo, a regra é clara: com dinheiro no bolso, investe-se nela. Sem grana, encosta-se a Beringela e espera-se o novo momento propício.
Isto posto, somente depois que consegui o meu novo emprego na Michelin e voltei a morar sozinho, me estabelecendo em Campo Grande (no conjunto de apartamentos conhecido carinhosamente como Bolla's Palace), é que voltei os olhos e o bolso novamente para a Brasa. Isto foi lá no começo de 2005.
Foi nesta época que tive a noção exata de que eu tinha um carro que, na verdade, era uma "casca" a ser cuidadosamente preenchida a meu gosto. A internet oferecia os dois mundos distintos e paralelos: um mar de acessórios e apetrechos estéticos e mecânicos extremamente disponível (salve Mercado Livre!) e as críticas em sites e blogs sobre os exageros cometidos Brasil afora. Termos como "xuning", "baianada", e indagações do tipo "como assassinar um Fusca" indicam os exemplos mais clássicos do que não se deve fazer quando o assunto é personalização. Não por acaso, o único exemplar que foge das críticas ferozes sobre suas "particularidades" é tão somente a Brasilia Amarela dos Mamonas. Até mesmo as reações ao Cadillac rosa de Elvis Presley e ao Rolls Royce psicodélico de John Lennon foram capazes de suplantar a grandeza de seus donos.

Tomado deste espírito de "liberdade vigiada", comecei a montar mais detalhadamente meu projeto. A contra-capa da minha agenda carregava o esboço de uma Brasilia 4 portas vista de cima, com várias informações ligadas e apontadas para cada ponto do carro. O tipo de roda, a cor do estofado, os equipamentos de conforto, os detalhes dos acessórios, a localização dos emblemas, tudo merecia uma referência. Algumas coisas, obviamente, foram abandonadas no desenrolar do projeto, como o neon sob os pedais e nas soleiras das portas, o que, segundo meus colegas de Michelin, transformaria a Brasilia em uma belíssima "penteadeira de p..."! Bom, percebi que não escaparia das brincadeiras e dos comentários irônicos nem se deixasse de instalar algo nela...
Outras idéias entraram em vigor. Comprei um som com entrada USB frontal e um monitor de temperatura interna / externa na viagem que fiz a trabalho para a França. Para completar, um kit de alto-falantes VolksTech (aquele com o logo da Volks cromado no meio) originais da Parati, para as portas, e um par de 6x9 para um futuro tampão sobre o motor. Este, provavelmente, vai dar "munição" para meus amigos pois, opcionalmente, ele pisca no ritmo da batida da música... Bom, talvez eles falem menos do neon sob o carro (relativamente discreto) e dos faróis de lente lisa que providenciei para a dianteira. E desviem definitivamente a atenção para equipamentos mais importantes (e, porque não dizer, improváveis) que estarei instalando e comentando aqui depois.
Outros detalhes mudaram uma centena de vezes, como as manoplas de câmbio e de freio-de-mão. Optei por modelos cromados, fugindo mais uma vez do neon excessivo. A cor dos bancos foi branca, passou pelo cinza claro, bege com laterais roxas e agora fechou no caramelo. Vai dar um bom contraste com a lataria e os detalhes cromados, e ficar elegante. Existem outros pontos onde ainda não "bati o martelo", como no esguicho d'água e nos puxadores das portas traseiras. Mas os parafusos das placas e os bicos das válvulas dos pneus estão comprados. Antena: interna, externa, no teto, "tubarão", com neon??? É, cuidado com a "penteadeira"!...
Não, não estou deveras preocupado com o falatório. Afinal, um carro que mescla os adjetivos "antigo" e "personalizado" sempre carregará a máxima "falem bem, falem mal, mas falem de mim". Deixei em definitivo a passividade para meu carro-carro e a criatividade com bom gosto para meu carro-fun. E venha o que tiver que vir depois...

domingo, 9 de agosto de 2009

TINTA I - A MISSÃO

Chegou a hora de comprovar na prática o que minha imaginação dava como certo: o quão linda ficaria uma Brasilia 4 portas na cor roxa! Estávamos no começo de 2004. Em Campinas, eu ainda não conhecia o trabalho de nenhuma oficina de lanternagem e pintura, o que me levou a tomar a decisão mais simples: escolher alguma bem próxima, onde eu pudesse, facilmente, estar acompanhando o andamento do trabalho.
Havia (e acredito que ainda exista) uma oficina na Avenida das Amoreiras, quase em frente à rua João Felipe Xavier da Silva, onde fica localizada a Bosch Chassis Systems. Estando próximo da empresa onde eu trabalhava, seria fácil aproveitar os intervalos de almoço, por exemplo, para visitar a brasa durante sua reforma. A oficina não era nenhum primor de limpeza e organização; por outro lado, os carros que lá encontrei me pareciam bem pintados e o dono era um cara simpático e de boa conversa. Levei a Brasilia para uma avaliação, o orçamento foi feito e, tudo certo, dei parte do dinheiro para a compra dos materiais. Isto posto, começaram a lanternagem que incluía troca das caixas de ar e do assoalho, entre outros trabalhos menores.
Mas eis que o destino nos prega "peças", por vezes, difíceis de entender. Por motivos sem importância neste momento, fui obrigado, contra minha vontade, a me desligar da Bosch em março de 2004. Se, por um lado, depois isto se mostrou útil (eu pude acompanhar a cirurgia de coração e a recuperação de meu pai no Rio), por outro, naquele momento, ficou uma sensação amarga e dolorida de um fim inesperado e indesejado. E rapidamente eu precisaria montar uma "operação de guerra" para minha mudança para o Rio, de volta à casa dos meus pais...
Com grande parte das "tralhas" (nossa, como a gente guarda troço!) eu abarrotei meu saudoso Santana branco e me aventurei 500 km até o Rio. Algumas coisas ficariam para trás, especialmente a Brasilia, pois não havia muito a ser feito: eu já havia pago boa parte do serviço e a oficina vinha cumprindo o combinado. Logo, tive que deixá-la por lá mesmo e ir "monitorando" por telefone o andamento das coisas. Como voce já deve ter imaginado, este tipo de "controle" está longe, muito longe mesmo, de ser o ideal.
Os momentos de crise, notadamente, são também aqueles que servem nos de "peneira", ou seja, onde os verdadeiros amigos se apresentam e lhe estendem a mão. E eu não posso deixar de mencionar Douglas Barthman (ou, carinhosamente, Barth), amigo e colega de Bosch que, desde o primeiro momento, se colocou à disposição para qualquer necessidade. Em sua casa ficaram meu computador, um sonzinho e o restante das coisas que eu não consegui levar na viagem com o Santana. Isto foi de suma importância para que eu tivesse o mínimo de tranquilidade para tratar daquela situação complicada.
Estando longe, o serviço começou a se arrastar; afinal, meu ilustre lanterneiro foi dando prioridade aos outros serviços menores e de grana mais rápida do que o meu. Quando finalmente coloquei uma data limite e mostrei o que queria, o serviço saiu. Voltei à Campinas, retirei o carro e notei que o cheiro de tinta ainda era bastante forte; ou seja, o carro havia sido pintado às pressas... Mais à frente, isto acabou fazendo com que eu tivesse novas "dores de cabeça" com a pintura dela. Naquela loucura toda, não consegui nem curtir o novo tom da minha brasa...
Além do final da pintura, fui também a Campinas para retirar as coisas que estavam com Barth, visto que ele estava de mudança. A foto que ilustra este post é deste dia, onde pode-se ver um lençol branco cobrindo tudo sobre o banco traseiro. Ainda sem uma definição de emprego no Rio, optei por deixar a Brasilia por um tempo em um estacionamento próximo à rodoviária de Campinas. Isto foi necessário para estabilizar as coisas e definir como traríamos "minha filha" para o Rio. O carro ficou lá por quase dois meses.
Definimos que meu pai seria o "piloto" da volta ao Rio. Em Campinas, fizemos uma revisão nos limpadores de para-brisa e meu piloto preferido pegou a estrada. Eu ainda fiquei mais dois dias para rever Barth e acertar os últimos detalhes. E na viagem de volta, no mesmo "Cometão" dois andares que tantas vezes me levou para visitar minha família, confesso que chorei. Chorei pouquinho e baixinho, pela dor e pela certeza de que ali era o fim daquela missão, e também pelo modo como tudo havia terminado.
Meu pai chegou bem da viagem. Reza a lenda (contada por ele, claro) que colocou 120 km/h no velocímetro da brasa beringela. Verdade ou não, dias depois fizemos a transferência do carro, onde finalmente meu "bólido" ganhou, em seu documento, a informação mais importante: "cor predominante: ROXA"...

sábado, 25 de julho de 2009

A PRIMEIRA PANE A GENTE NUNCA ESQUECE

Experiência de vida: realmente é isto que esta Brasilia me proporcionou até aqui. Se eu tenho andado com ela menos do que gostaria, pelo menos o que tenho aprendido vale por vários quilômetros. E tudo deve servir para os próximos carros que pretendo comprar e reformar (ou voce achou que a brincadeira acabava aqui?). Coitado de mim quando minha esposa ler isto...
Em Campinas, indo ou voltando do trabalho, eu pegava uma longa avenida: a Avenida das Amoreiras (engraçado como eu acho este nome bonito). Esta avenida fica muito próxima da Bosch, e tudo que precisássemos era lá que encontrávamos. Trata-se de um longo declive com pista de mão-dupla e canaleta central para ônibus, e vasto comércio: farmácias, mercados, lotéricas, lojas de serviço, etc. E a Sena Auto Center também. Sorte minha...
Um belo dia, vindo com a Brasa para a Bosch, tudo funcionava bem e o marcador de combustível indicando algo um pouco acima da reserva. Pelo menos foi isso que imaginei que houvesse no tanque... No último sinal (ou semáforo, como queira) antes de chegar ao meu destino, ela simplesmente deu uma engasgada e... apagou! Como se tivesse sido tirada da tomada! Só que havia carga na bateria, como indicava a luz do alternador. Quem conhece sabe que, em um carro de mecânica simples como este, só se "apaga" por falta de um dos dois: carga na bateria ou combustível no tanque. Ou seja: caramba, eu estava sem gasolina! Está certo que, se eu ficasse parado ali, não causaria o mesmo impacto que uma poderosa Ferrari na mesma condição (vide foto). Afinal, quantos "velhinhos" repletos de ferrugem voce já não viu deixando na mão pobres cidadãos desprevenidos... Mas, tão perto da chegada, meu poder de aceitação não me permitiu ficar ali, atravancando o trânsito.

Sinal verde, girei o motor e ele pegou, engasgando bastante. Engatei a primeira, acelerei forte, ela andou quinze metros e silenciou novamente... A esta altura, eu já estava no declive das Amoreiras e, com ela desligada, me restou somente seguir descendo a ladeira. O impulso foi o suficiente para chegar na (adivinha?) Sena Auto Center. Sinto que, de certo modo, havia uma relação de amor e ódio entre a Brasa roxa (neste tempo, ainda bege) e esta oficina.
Não pude deixar de ouvir a gozação de Elvis e companhia. Empurramos minha "companheira de aventura" para dentro da oficina, passei todas as coordenadas e fui correndo para o trabalho (sim, apesar desta experiência emocionante, eu tinha que trabalhar!). Claro que, além da gasolina e da bóia do tanque de combustível, aproveitei para acertar mais umas coisinhas nela; afinal, carro velho SEMPRE tem alguma coisinha para fazer. Desta vez, se não me engano, troquei duas rodas que estavam abrindo pontos de ferrugem. Normal...
Nesta história aprendi que nunca se deve confiar cegamente em um carro usado recém adquirido. Desde aquele momento, todos os meus carros ditos "normais", quando comprados, passam logo por uma revisão: óleo, filtros, freios, velas, correia dentada, uma checada na suspensão e na direção, e uma análise "amável" dos pneus, com direito a carinho e tudo. São coisas que, normalmente, tem um custo baixo e, se não forem observadas, podem te deixar na mão, te dar um grande prejuízo ou mesmo causar um acidente.
Obviamente, depois deste episódio, aconteceram alguns outros que me deixaram a pé, mas a chance disso se repetir é cada vez menor. Talvez estejam certos os que dizem que, para tudo (ou quase tudo) na vida, existe uma primeira vez. Para mim, esta foi a primeira, e a primeira pane a gente nunca esquece...
56 abraços!

sábado, 11 de julho de 2009

ROXO BERINGELA

Sem dúvida, um dos grandes diferenciais da minha Brasilia e alvo dos mais exacerbados comentários é sua indefectível cor ROXA. Ok, eu pertenço a uma minoria, bem minoria mesmo, subclasse relegada às margens da sociedade que, entre as várias cores presentes neste universo de meu Deus, dá preferência simplesmente à roxa... E isto, muito antes do nosso querido ex-presidente Collor surgir com a "pérola" do "aquilo roxo". Minha mãe já havia detectado esta minha predileção por roxo e suas variantes lilás e violeta quando eu era ainda criança, principalmente quando saíamos para comprar roupas.
Até entendo que esta cor esteja na rabeira da lista das mais lembradas e amadas: é uma cor que, em seus tons mais escuros, remete a eventos fúnebres e de prostração; nas matizes mais claras, é associada à opção homossexual... Sem ignorar ou atacar estas opiniões, eu vejo de um modo completamente diferente: cor elegante, o roxo me passa noção de requinte e classe. É sóbria, mas ao mesmo tempo chama a atenção (se é que isto é possível). E, convenhamos, é uma ótima escolha para quem quer fugir do lugar-comum: a frase "minha cor preferida é roxo" causa espanto e curiosidade em qualquer situação. Quem sabe a nova camisa roxa do Corinthians não popularize a minha preferência e a eleve ao mesmo status do azul ou vermelho?
Hoje o roxo faz parte da minha vida naturalmente: a minha camisa "de sorte", aquela que uso em eventos especiais (como entrevistas de seleção, por exemplo) é roxa. Roxa de botões roxos!... A minha equipe de kart no AMR (http://formula-amr-2009.blogspot.com/) é roxa e, pelo menos até aqui, líder em 2009. Minha família aceita bem a minha preferência e meus amigos associam-na diretamente com a minha pessoa. E voce há de concordar que não poderia ser de outro modo: meu carro tinha que ser roxo!
Respeito quem gosta, quem acha bonito, mas o bege original da minha Brasilia era um tanto comum e sem graça. Quantas Brasilias, Fuscas, Kombis e Variants beges voce já viu rodando por aí? Natural que eu promovesse uma mudança, assim como natural foi a escolha da cor. Para facilitar o trabalho, ideal que a tinta já fosse usada em algum outro modelo: é muito mais simples pedir pela cor "tal" do carro "tal". Encontrei alguns modelos da Ford (Ka, Ranger, Escort "sapão") em um tom de roxo bonito, mas o que me encantou mesmo foi o "beringela" do Corsinha da primeira "fornada", presente também nos seus derivados Sedan, Pick-Up e Wagon.
E para ficar claro que é roxo mesmo (e não azul escuro, como alguns lanterneiros insistem em mencionar), seu nome nos catálogos é "Roxo Rossette". Esta pintura chegou a ser parte de uma reportagem do Motor Extra (Jornal Extra - RJ), com direito a foto e tudo, entre aquelas que transformam um carro em invendável, mencionando também o verde limão e o amarelo metálico do lançamento do Palio...
Que a cor mais associada à Brasa continue sendo o amarelo (salve Mamonas Assassinas!). Que as caras de surpresa e estranhamento continuem se proliferando quando falo dela (e se desfazendo quando a mostro pessoalmente). Brasilia com 4 portas e roxa só tem uma: a minha! E tenho dito!

sábado, 4 de julho de 2009

A BARATA "IMPORTADA"

Muitas histórias curiosas envolvem a trajetória desta Brasilia 4 portas. Este foi um dos motivos para que eu resolvesse montar este blog e confidenciar estas passagens inusitadas. Com certeza uma das mais diferentes, para não dizer quase bizarra, foi quando resolvi trocar os "vidros" da Brasilia.
Como já dito anteriormente, comprei o carro com o vidro do motorista e o quebra-vento do carona feitos de acrílico. Não sei exatamente o que houve, se foi acidente, furto ou uma besteira qualquer. Também admito que não procurei saber: às vezes é melhor deixar o passado onde ele está. Muito provavelmente o dono, na época, não encontrou os vidros para repor e adotou o acrílico como solução. Inteligente, se não acontecesse uma coisa: com o tempo, o acrílico vai fosqueando, trincando e arranhando, chegando a um ponto que não se enxerga nada através dele. O meu caso não era tão crítico, mas chamava a atenção negativamente.
Em busca dos vidros perdidos, rodei quase todas as vidraçarias de Campinas e encontrei até uma especializada em carros antigos. E mesmo nesta, nem sombra do que eu procurava. Aprendi algumas coisas, como o fato dos vidros, apesar de aparentemente retos, serem ligeiramente curvados, o que me impedia de mandar fabricá-los sem que isto custasse o valor do carro todo. Outra descoberta interessante: o poder da internet! Aliás, como voce vai perceber acompanhando a história deste possante cor de beringela, se não fosse a internet provavelmente a idéia de reformar este carro não sairia do papel.
Na internet encontrei o anúncio de um catarinense que estava desmontando uma Brasilia 4 portas e vendendo as peças. Foi um dos meus primeiros contatos com compra eletrônica, e tudo transcorreu conforme combinado. Por 90 reais (um preço que até hoje considero baixo) recebi em meu apartamento uma caixa com os vidros envoltos em bastante jornal.
Na época, o apartamento que eu alugava (um quarto-e-sala) estava passando por uma pequena reforma de renovação do sinteco (piso) do quarto. Assim sendo, eu estava dormindo em um colchão no chão da sala, por conta do cheiro forte. Peguei a caixa quando cheguei em casa à noite, após o trabalho. Abri sobre a pequena e única mesa que havia lá, conferi o material (se havia o logotipo Volkswagen, se estava sem arranhões, se o quebra-vento possuía trinco, etc.), deixei os vidros sobre a mesa, e a caixa mais "trocentas" folhas de jornal soltas no chão.
Durante a madrugada, a surpresa. Eu dormia um sono ainda não tão pesado e acabei despertando com um barulhinho, semelhante ao de uma brisa passando sobre folhas secas. Era um ruído que se repetia em intervalos curtos. Intrigado, resolvi levantar e acender as luzes. Localizei o sonzinho sob um monte de jornais e, quando puxei as folhas, uma BARATA, daquelas estilo "halterofilista" mesmo, "bem nutrida". Ou seja, eu havia literalmente "importado" uma barata diretamente de Florianópolis...
O mais ridículo de toda esta história é que eu levei MEIA HORA para matar a bendita em um cômodo que, se tiver 12 metros quadrados (3 x 4 metros), é muito... Um verdadeiro baile! Os vidros foram instalados com todo o cuidado dias depois, sem grandes dificuldades e fazem parte da Brasa até hoje. Já a barata com porte de Schwarzenegger e ginga de Garrincha, agora faz parte é da história.

terça-feira, 16 de junho de 2009

ELVIS NÃO MORREU

Realizado o sonho de adquirir o carro que você tanto procura, duas coisas normalmente acontecem: a avaliação do que você comprou e os planos para transformar seu novo carro num “superbólido”, nesta ordem.
Depois de realizado o depósito, a Brasília e seus documentos me foram entregues na Bosch, no horário do expediente. Como eu não tinha vaga na empresa, ela teria que ficar na rua mesmo. E na primeira mexida, tudo bem com o motor, que pegou logo nas primeiras tentativas (o tio da ex-proprietária era mecânico). Senti que a direção era um tanto dura, mas joguei a culpa nos pneus, mais largos do que os originais. Estacionei o carro e, na hora de fechá-lo... A porta do passageiro só trancava por dentro: na chave, nem em sonho. Notei também que o quebra-vento deste lado tinha uma “cara” estranha, meio fosco: era de acrílico, assim como o vidro do motorista, o que só detectei no final de tudo. Voltei para o trabalho com a cabeça do lado de fora da empresa.
Terminado o dia (era uma sexta-feira) parti para a aventura de levar a Brasa para casa. Como era verão, o dia não escureceu tão cedo, o que me ajudou a ficar mais tranqüilo quando notei que “minha nova filha” pensava 56 vezes antes de decidir parar, mesmo com o pé cravado no freio... A direção continuava dura, até quando em movimento, e suspensão e quebra-molas (em Campinas há vários, além de valetas também) não chegavam em um acordo: era só na base da pancada. Estacionei em casa completamente molhado de suor.
No dia seguinte, sabadão de sol, fui olhar com mais carinho para a dita cuja, dar uma lavada... Descobri que minhas caixas de ar, a esta altura, só tinham mesmo ar. A espuma dos bancos estava boa, mas a forração, nem tanto. Duas rodas bem enferrujadas e duas lâminas de pára-choque também. E nada de polainas. O painel de instrumentos (o chamado “moderno”) estava solto, pois o local de fixação dos dois parafusos estava quebrado. E o retrovisor do lado do motorista simplesmente se recusava a ficar na posição: adorava admirar o asfalto.
Tomei logo a decisão de resolver os problemas, principalmente os de segurança. Ou seja, o trajeto foi Bosch, casa, casa, oficina. Levei meu carro na Sena Auto Center, onde costuma deixar o Santana com o mecânico Elvis. Pois é, Elvis não morreu: Elvis está vivo e trabalha na Sena Auto Center. Contei tudo que havia encontrado e mais um pouco. No dia seguinte, quando voltei para pegar o orçamento, notei a alegria da proprietária Maria de Lourdes (a "Malu") em me atender. E logo entendi o porquê.
Entre os problemas, dois amortecedores e uma barra estabilizadora quebrada, um freio traseiro inoperante, discos e pastilhas gastos na frente, escapamento furado, as molas já eram, duas rodas também e, o mais importante: uma caixa de direção com a carcaça rachada. Pois é, meu caro, comprando a Brasa e levando para o Elvis, salvei cinco vidas: a minha e a dos quatro caras que andavam nela...
Mais de mil reais se foram (aproveitei e troquei o escape por um de Puma, com aquele ronco incrível), mas pelo menos estava seguro para andar. E foi aí que discordei dos meus colegas de Bosch, que disseram que eu fui o único cara de Campinas que havia comprado um carro somente com o 13º. salário... Eu não havia comprado um carro: eu havia comprado uma deliciosa dor-de-cabeça...

sábado, 13 de junho de 2009

FINALMENTE!

Eu acredito no poder da mente. Apesar de nunca ter usado isto de modo premeditado, metódico, como indicam alguns livros (como “O Segredo” e “A Lei da Atração”), eu acredito sim. E acho que encontrar a minha Brasília 4 portas foi fruto deste poder. Vamos ver se você concorda comigo.
Depois de dois encontros com este raro modelo de Brasa (um deles muito frustrante), qualquer um daria a questão como encerrada e me mandaria procurar outra coisa para fazer. Mas eu queria muito aquilo. Acho que a proximidade na tentativa com Sr. Armando fez com que a vontade aumentasse ainda mais. E aí você começa a pensar em tudo que se pode fazer, todas as possibilidades.
Era dezembro de 2003. Eu comprava jornais toda semana, ligava para os que anunciavam Brasilias e obtinha sempre a mesma resposta: “não, a minha tem duas portas”. Comércio de veículos pela internet ainda era muito insipiente, e não restavam alternativas. Até que um colega de trabalho me indicou uma rua, próxima ao supermercado Extra, onde as lojas vendiam carros com mais idade, fora do fenômeno “semi-novos”...
E lá fui eu, pós-expediente, correr as 12 lojas da bendita rua (havia deixado o Santana no estacionamento do Extra) em busca de um milagre. Claro que não me espantei com o resultado: metade dos vendedores não tinha este modelo, a outra metade nunca tinha sequer ouvido falar em Brasília 4 portas. Sem surpresas, pelo menos até a volta...
Retornando ao estacionamento, lembrei que precisava comprar um desodorante (juro, simples assim). Quando estava entrando no supermercado, encontrei com um colega de Bosch que aguardava numa fila com seu filho para entrar em um brinquedo tipo pula-pula. Detalhe: não era comum este tipo de brinquedo no Extra: tratava-se de um evento especial. E começamos a conversar.
Falávamos justamente da minha "epopéia" em busca da Brasília quando, no final do estacionamento, avistei uma bege e (melhor ainda) vi dois brilhos na lateral. Pensei: caramba, as maçanetas! Interrompi o papo, corri até lá e... era ela: uma Brasília 4 portas! Quase não acreditei! Dei uma olhada rápida, e o carro me pareceu bom. Corri para o outro lado do estacionamento e trouxe o Santana para perto dela. Isto era por volta das 18 hs.
Resolvi “bater plantão” até a chegada do dono. Dei mais uma analisada e, apesar de algumas coisas para fazer, me pareceu um carro interessante. Ainda conversei com mais um cara que passava e me viu “urubuservando” a Brasa. 18:30, 19:00, 19:30 hs, e nada! E o tempo fechando! Nuvens e mais nuvens! Minha preocupação não era a chuva em si, mas a possibilidade do dono entrar no carro e sair correndo sem nem olhar para trás. Ficava pensando em como seria seu dono e o que diria para ele. De repente, um outro senhor, quem sabe...
Foi quando se aboletaram em torno da Brasília quatro rapazes. “Boa tarde! Quem é o dono da Brasília?” – perguntei. O motorista disse que era ele. “Quer vender?” (assim mesmo, na “cara-dura”!). Foi quando ele informou que, na verdade o carro era da irmã dele, mas que acreditava que ela queria vender. Trocamos telefones e, para encurtar a história, uma semana depois eu era proprietário de uma Brasília bege 4 portas 78 à gasolina, com dupla carburação, pelo valor de dois mil reais. Obviamente me senti realizado! E sem saber quanta história ainda estava por vir...

sábado, 25 de abril de 2009

A SEGUNDA DE TRÊS

Se eu tenho uma qualidade na vida, esta certamente é não desistir dos sonhos tão facilmente. Eventualmente eles tomam outra forma, moldam-se de acordo com a situação vigente, enfim (parafraseando Lavoisier), nos meus sonhos "nada se perde, tudo se transforma". E no sonho de ter uma Brasília 4 portas, tive que desistir da primeira, já que, além do carro, encontrei um camarada tão aficcionado e fechado no seu propósito quanto eu. Não tinha dinheiro para uma proposta irrecusável, nem outros meios de convencê-lo. Por outro lado, mesmo sendo visivelmente difícil, eu ainda acreditava na possibilidade de achar outra Brasilia de raras 4 portas. Saí à procura nos jornais da região, conversei com os conhecidos e, por que não dizer, com os desconhecidos também.
Certo dia, a bateria de meu Santana resolveu "dar por encerradas suas atividades" e eu tive que apelar para um taxi para chegar ao trabalho. Taxistas normalmente são bons de papo e muitas vezes o assunto preferido é seu instrumento de trabalho, ou seja, carros. Papo vai, papo vem, contei as dificuldades que estava enfrentando para encontrar a "agulha no palheiro" e citei o fato de que, antigamente, não era difícil encontrar uma Brasilia desta rodando como taxi no Rio de Janeiro. Foi aí que o taxista teve uma "luz"...
Um senhor, proprietário de uma frota de 6 a 7 taxis para aluguel, teria tido em suas mãos uma Brasilia 4 portas que utilizou na "praça" e que, segundo constava, estaria guardada, sem utilidade em sua garagem. Este senhor (um português de nome Armando) já estava com idade avançada, bastante dinheiro no bolso e - imaginava o taxista - com uma boa conversa e alguma grana, ele fatalmente toparia em fazer negócio comigo. E mais: ele morava em uma casa localizada a meras três quadras da Bosch. Nem preciso mencionar a mudança de rota rumo à casa do nobre lusitano, preciso?...
Casa mostrada, endereço anotado, trabalhei aquela manhã com a cabeça ligada nas possibilidades. No final da minha hora do almoço, deu uma "fugida" e fui bater na porta do Sr. Antonio. Na "cara dura" mesmo, me apresentei ao senhor de 70 e poucos anos e contei um resumo da conversa com seu colega taxista. Ele se mostrou solícito e me abriu sua casa, mesmo levemente desconfiado do estranho aqui. Me levou até a garagem e levantou uma capa onde, no meio da poeira, podia-se ver de fato uma Brasilia Amarelo Java de 4 portas, ano 80.
Admito que não consegui ver muitos detalhes, mas me pareceu um carro íntegro. Admito também que, na hora de fazer a proposta, mandei mal (mas mal mesmo). Na minha cabeça engenheirística, subtraí dos dois mil reais que estava disposto a gastar, o valor dos 4 pneus novos e da bateria que teria que adquirir para colocar a brasa para andar. E (sabe-se lá como) este cálculo absurdamente deu 850 reias. E foi isto que ofereci ao velho português. Foi triste notar a mudança de humor e como o tempo dele para mim rapidamente "se encurtou". Com repetidas frases "vou pensar", ele me levou até a porta e mal se despediu.
Uma semana depois voltei atrás de uma resposta e, sem sequer abrir a porta e sem dar explicações (se é que precisava), através da janelinha de visita ele disse não estar mais interessado na venda. Voltei umas duas ou três vezes depois que vi o tamanho da bobagem que havia feito, mas em todas elas quem me atendeu foi sua enfermeira dizendo que ele estava acamado. Perdi algumas noites de sono e mentalmente me dei algumas "chibatadas" pela oportunidade desperdiçada.
Posteriormente fiquei sabendo que, de fato, ele havia ficado doente naquele período e viria a falecer, deixando a Brasilia para o inventário da família. E eu voltei a estaca zero, sem pista de outra 4 portas, mas, como disse no começo, sem nunca desistir do sonho.
56 abraços!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

PORQUE UMA BRASILIA 4 PORTAS?

Acredito que o passo primordial para se tornar um antigomobilista é escolher que marca, modelo, época ou tema vai nortear a sua coleção. E o leque de opções é grande: veículos do pós-guerra, décadas de 50 e 60, americanos ou europeus, veículos do começo do século passado, "muscle cars" da década de 70, "minis" (Isetta, Fiat Topolino, Mini Morris, etc.), caminhões antigos, picapes... Apontar uma escolha neste universo extenso muitas vezes não é tarefa fácil. E não é raro uma experiência do passado se transformar em paixão: o carro da minha infância, o primeiro que dirigi, aquele que o vizinho tinha e não vendia de jeito nenhum, e por aí vai.
Comigo a coisa aconteceu de modo mais racional, sem deixar de ser quase por acaso. Todos os dias eu percorria um mesmo caminho para chegar ao trabalho. E no meu trajeto matinal vinha pensando que carro seria o escolhido para começar a "brincadeira". Queria que fosse algum de mecânica descomplicada, sem dificuldade de se encontrar peças e que não apresentasse muitos defeitos. Afinal, era o começo e este deveria ter uma certa facilidade, para "pegar o jeito da coisa". Qualquer um com um mínimo de conhecimento sobre carros nas nossas terras tupiniquins apontaria tranquilamente a mesma família: Volkswagens de motorização "a ar" (Fusca, Kombi, Variant, Karmann-Ghia e seus derivados). Como dizia meu pai, acham-se peças de Fusca até no botequim da esquina... Para ficar perfeito, só se fosse relativamente confortável e levemente raro. Afinal, uma raridade é o que todo colecionador quer.
Por acaso, neste mesmo trajeto para o trabalho havia uma auto-elétrica. E um belo dia surgiu um carro "diferente" por lá. Comecei a notar que este "diferente" passou a ser "permanente" na frente da oficina. E todo dia nós nos encontrávamos. O "diferente" era uma Brasília 4 portas, cor branco gelo, já equipada com as rodas do modelo conhecido como "tijolinho". Realmente a coincidência me chamou atenção. Afinal, era um carro de mecânica simples, com os atributos que estava buscando: confortável como um Fusca jamais poderia ser (espaço + 4 portas = conforto), fácil de achar peças e um pouco raro, visto que poucas foram produzidas, sendo a maioria exportada ou vendidas a taxistas.
Estava decidido: seria uma VW Brasilia 4 portas! Não demorou para eu conhecer o dono daquela Brasilia branca e descobrir se ele (se não me engano, seu nome era Miguel) estaria disposto a vendê-la. Acabei descobrindo que ele havia acabado de comprar aquela, depois de uma certa "caçada" nas cidades vizinhas de Campinas. Acabamos trocando algumas informações sobre aquele modelo, sobre sua reforma e o estilo das linhas (para nós, muito mais equilibradas que a Brasilia de 2 portas). Ficou a promessa, por este meu mais novo amigo, de um contato, caso uma outra 4 portas fosse encontrada por ele, o que de fato acabou não acontecendo.
Admito que saí meio desolado daquele encontro... Afinal, se já era difícil encontrar uma Brasilia de 4 portas em Campinas, que dirá outra? Mal sabia eu que logo toparia não com uma, mas com outras DUAS destas. Mas isto é história para um outro (próximo) post...
56 abraços!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CAMPINAS E O ANTIGOMOBILISMO

Com certeza um dos passos mais importantes da minha vida foi a mudança para Campinas. Na época, eu trabalhava em um micro-escritório-apartamento-bagunçado em Botafogo, cujo dono-chefe fazia serviços de análise de tensões em tubulações para a Petrobras. O assunto era chato, muito chato mesmo, mas mais ainda era meu chefe, sem sombra de dúvidas o pior que tive até hoje... Sem futuro ou prazer, somente a grana razoável que entrava era o que me mantinha lá. Mesmo assim, buscava outros desafios e mandava meu currículo para algumas empresas, principalmente no ramo automobilístico e de auto-peças, meu foco e minha paixão. Foi quando surgiu um processo de seleção para a Bosch, em Campinas. Passei pelas várias etapas e acabei contratado em 2002, para a fábrica de Freios.
Com quase 26 anos, já era hora mesmo de sair debaixo da saia da mamãe... E foram dois anos e meio muito bons, de novas experiências e muito aprendizado. Uma real mudança de vida. Campinas é uma boa cidade, com boa infraestrutura e sem a bagunça (leia-se sujeira, falta de educação e violência) do Rio de Janeiro. E, para minha sorte, também é uma cidade de tradição maior quando o assunto é automóvel antigo. Os constantes encontros de antigomobilistas no Shopping Galeria, que acontecem até hoje, não me deixam mentir.
Ganhando bem, morando sozinho, buscando novos rumos e com esta aura antigomobilista campineira, foi de certo modo natural que eu decidisse por começar a minha própria coleção de antigos. Afinal de contas, não é somente a beleza destes carros que me chama a atenção. O empenho de seus proprietários em manter as condições originais, os detalhes minuciosos, os cuidados especiais, realmente me toma de grande admiração. Gosto de pessoas que lutam com real afinco por um objetivo.
E mais um ponto importante veio ao meu encontro: a possibilidade de personalização. Não ser apenas mais um na multidão (ou, neste caso, no trânsito). Original ou modificado, um veículo antigo tem sempre a cara do seu dono e o diferencia de tudo que normalmente encontramos por aí. Não há quem não note e não abra um sorriso ao ver um "antiguinho" passeando na rua. Gosto dos novos carros, da velocidade, da tecnologia que eles carregam, mas é fato que a mesmice comercial tomou conta do mercado através dos modelos atuais. É até bem fácil confundir um Fiesta com um Corsa ou Celta, mas até uma criança sabe quando na sua frente está um Fusquinha.
E foi a partir daí que comecei a crescer no tema, a buscar informações, a assinar minhas Classic Show, Fusca & Cia., Antigos de Garagem, etc. Descobri que até entre os colecionadores existem diferentes perfis, décadas e modelos preferidos, clubes de todas as marcas, encontros, venda de peças e até competições. E que a possibilidade de escolha é quase infinita. E conforme você vai conhecendo, mais vai se encantando e querendo fazer parte deste "desfile sobre rodas". Como dizem os apaixonados, vai circulando ferrugem nas veias...
No próximo post, como entrei na prática para o rol dos proprietários de veículos antigos.
56 abraços!

domingo, 5 de abril de 2009

A PRIMEIRA BRASILIA

Minha mãe costuma utilizar provérbios e ditos populares para várias situações. Alguns bem conhecidos ("o que não tem remédio, remediado está" ou "filho de peixe, peixinho é"), outros nem tanto ("as águas calmas são as mais profundas"). No caso da minha primeira experiência como motorista, coube bem o famoso "casa de ferreiro, espeto de pau".
Apesar da grande maioria das minhas atividades automobilísticas terem acontecido através das mãos e das ações de meu pai, e ele ser, de fato, um supercompetente motorista executivo, não foi ele quem primeiro me colocou no banco do motorista e disse "engata a primeira e vamos embora"... Talvez (ou melhor, certamente) pelo fato do carro da família ser também aquele que trazia o sustento, não havia margem para se correr riscos. A expressão "garantir a disponibilidade", que tanto uso hoje tratando de máquinas para produção, entrou muito antes na minha vida. Foram necessários mais de 800 km de distância e a iniciativa de um tio para que eu desse minhas primeiras voltas no volante de verdade (e não apenas para lavar o carro...).
Meu tio Marco sempre foi um tio próximo e querido dos sobrinhos cariocas. Talvez pela jovialidade, talvez pelo bom humor, sempre tínhamos agradáveis momentos juntos em nossas viagens à Curitiba. E coube a ele me dar a oportunidade de dar umas voltinhas pelo quarteirão.
Colombo, cidade satélite de Curitiba, na época praticamente só tinha ruas de terra batida e bastante tranquilidade. Meu tio me pegou de surpresa com o convite. Eu, com 17 anos e já apaixonado por carros, obviamente esperava com ansiedade por um dia como este, e topei a aventura na hora. Ao entrarmos no carro, ele me perguntou se eu sabia como fazer um carro funcionar (na teoria, eu sabia tudo, né?), me deu algumas dicas e soltou uma frase que ficou gravada na memória: "pé esquerdo só serve para duas coisas nesta vida: chutar bola e pisar na embreagem". Com isto, estava quase assegurado que os pés não ficariam se embaralhando perigosamente nos pedais, e que tudo correria bem.
Ok, a primeira vez é sempre meio complicada para tudo. Perguntei a meu tio se ele sentia o motor do carro tremer. Ele respondeu que sim. "Pois é, tio, neste caso, não é o motor: sou EU que estou tremendo"... Claro que deixei o carro morrer algumas vezes, "colei" a cara de meu tio no vidro duas ou três, suava cachoeiras de tão nervoso, mas no final foi gostoso. O volante era esportivo (um Panther, da época, se bem lembro) e os engates do câmbio aconteciam quase naturalmente. O torque em baixas rotações tornava a aventura mais interessante ainda. Houve ainda uma segunda "sessão" onde minha mãe e mais uma turminha foram no banco de trás, acompanhando. Não vi se alguém estava cravando as unhas de medo no assento traseiro, mas quando acabou, todos disseram que foi tudo bem.
Por fim, o detalhe mais interessante de toda esta história, e que você já deve estar imaginando: este carro do meu tio, de fato, era uma BRASILIA!... De um tom de vermelho quase vinho, era bonita como acho toda Brasília bonita, ainda mais naquele dia ensolarado. Mas, engraçado, passados mais de 15 anos, ainda lembro da sensação, da tocada, da precisão dos comandos e até mesmo da consistência do volante!
Tempos depois soube que aquela Brasília teve um fim não muito feliz, por conta de um incêndio e uma confusão com mecânicos. Ainda guardo uma foto deste "piloto" ocupando seu "cockpit" no "possante". Mas nem precisaria: toda vez que toco neste assunto, um filme na minha cabeça me faz estar lá, com todos os detalhes, como se estivesse tudo apenas começando...
56 abraços!

sábado, 28 de março de 2009

TUDO COMEÇOU ASSIM

Quem me conhece sabe bem a paixão que tenho por automóveis (definitivamente, a melhor criação humana). Desde criança eu sabia os nomes e fabricantes de todos os carros que trafegavam por nossas ruas, acompanhava os novos modelos, e até criava os meus próprios à base de muito papel e lápis. Algumas destas "criações" da minha "fábrica virtual" ainda guardo com muito cuidado e carinho.
Meu pai tinha no automóvel um instrumento de trabalho. Guia de turismo e motorista executivo, transportou alguns dos mais importantes presidentes de multinacionais, cantores, artistas da dança e do teatro, e outros de igual notoriedade. Não por acaso, ele tratava com muito esmero o "ganha-pão" da família. Ele e seu fiel pequeno escudeiro... Lavávamos, políamos, consertávamos e incrementávamos os carros que acompanhariam meu pai em dias e noites de trabalho suado e muitas vezes bem arriscado para trazer o sustento da casa.
Por suas mãos passaram vários, muitos carros mesmo. De sua propriedade, foram mais de 30, desde o primeiro Ford Prefect até a saudosa Variant 1976 que ajudei a encontrar e comprar. Não foram poucos Landaus, Galaxies, Opalas, Versailles e Santanas, todos ícones de luxo e sofisticação, cada um no seu tempo.

Muitos foram os Fusquinhas também (meus pais se conheceram quando ele viajava com um vermelhinho). Até uma Kombi, uma Caravan SS e um raro Voyage 4 portas preto (segundo ele, o que mais lhe deu retorno no trabalho) fizeram parte da família e dos meus sonhos de menino.
O primeiro carro que "movimentei" sem estar "empurrando" foi um Santana 85 azul, o primeiro (e, com certeza, mais desejado) Santana que ele comprou. Nossa, como eu suava!!! Calor? Não, era nervosismo mesmo! Manobrar aquele carrão pela apertada garagem do nosso prédio era um desafio! E pensar que meu pai saía dela, de marcha-à-ré, subindo e descendo duas ladeiras, com dois dedos de cada lado, manobrando um... Landau!


Realmente o véio era fera!... E acho que ficou claro que, "sem querer querendo", acabei criando esta paixão toda por carros. O primeiro contato com carros foi através dele; a assinatura da minha revista Quatro Rodas ele bancava; ele me acompanhou no meu primeiro Salão do Automóvel (em 1990); meu primeiro carro (um Voyage 85 cinza) e também o segundo (Santana 90 branco) foi ele quem deu. Até à minha primeira corrida de kart quem levou foi ele! As histórias, os ensinamentos, as lições, quase tudo que me relacionava com carro vinha dele. Quase tudo...
No próximo post, porque foi "quase" tudo e onde a Brasília entra nesta história...
56 abraços!