sábado, 26 de setembro de 2009

ELES SÃO DA FAMÍLIA

É tão evidente quanto parece: um aficcionado por carros, principalmente apreciador de antigos, depende de bons profissionais para que seus doces sonhos não se transformem em amargos pesadelos. Pessoas capazes de traduzir os seus desejos em trabalho honesto, com qualidade e, de preferência, sem limpar sua carteira para isso. Pois, acredite: alguns bons profissionais, sem pompa nem circunstância, cobram o justo e superam suas espectativas, enquanto alguns ditos "especialistas", em troca de sua grana, lhe devolvem dor-de-cabeça. Dependendo do caso, uma baita enxaqueca...
Como me mudei para o bairro de Campo Grande, na cidade do Rio, tive que recomeçar e buscar por bons profissionais para cuidar dos meus "filhos" Santana e Brasilia. Aqui cabe um parêntese rápido: quando alguém mencionar seus carros como membros da família, não despreze a informação. Quem cuida de um carro como ele deve ser cuidado tem mais um familiar sim, que o acompanha nos passeios e viagens, que auxilia nos momentos de mudança (no meu caso, literalmente, na mudança) e que, em contrapartida, precisa ser alimentado (combustível), levado ao médico (mecânico), ter higiene (duchas e lavagens super detalhadas) e, pasmem, eventualmente fazer até tratamento de pele (polimento)...
Voltando, vou mencionar aqui alguns mecânicos, lanterneiros e afins que participaram ou ainda participam da "vida" da minha Brasa Beringela, e talvez voce concorde que um carro pode ter uma "vida social", passar por momentos de progresso e outros de sofrimento em função das pessoas que atravessam seu caminho.
Na minha primeira necessidade mecânica em "Big Field", procurei a oficina mais próxima da Michelin, e acabei encontrando Anderson "Vampirinho", que recebe este apelido pelo formato dos dentes mesmo, e não por "sugar" a grana da carteira dos clientes. Diferente disto, ele deixa claro que existe quem tenha na mecânica uma vocação, e não apenas um modo de sobrevivência. Não por acaso, foi ele que deixou o motor da Brasa trabalhando como um relógio. E me deixou curioso para ver o sonho dele de montar um Maverick V8 concretizado.
Outro que queria (e, neste caso, conseguiu) reformar um Maverick foi o eletricista Gilberto. Aliás, chamá-lo de eletricista é pouco para sua capacidade. Ele é um LOUCO mesmo! Foi ele o responsável por instalar o ar condicionado, os vidros elétricos, os retrovisores elétricos e toda a iluminação interna e externa da Brasilia. O ar é um caso à parte: voce só descobre que ela tem climatização quando abre a tampa do motor. Tudo foi feito de modo que se aproveitassem as saídas de ar do painel original, sem deixar notar que se trata de uma adaptação. É o que acontece quando dois loucos se encontram: retrovisores elétricos do Honda Fit com pisca (inspiração tirada da foto abaixo), vidros elétricos nos puxadores de porta do Fiat Tipo (detalhe: os vidros das quatro portas têm comando elétrico), neon sob o carro, no interior e no painel de instrumentos, e "angel eyes" (aqueles aros iluminados sobre os faróis) no melhor estilo BMW. Moleza para alguém, como ele, já instalou um motor 2.0 de Santana em uma Kombi "jarrinha"...


Na oficina do Gilberto trabalha também o Mauro, disparado o cara mais humilde e honesto que conheço neste ramo. Algo difícil de se encontrar mesmo. Foi ele que, entre outras coisas, resolveu um problema crônico de quebra do calço da caixa de câmbio e, junto com o Gilberto, providenciou a furação do cubo e a posterior montagem das rodas Orbital aro 14 (originais do Gol GTi 91) no meu bólido. Corro o risco destes dois se juntarem um dia para me cobrar o "aluguel" do espaço na oficina, dos meses em que a grana era curta e o carro não podia sair de lá...
E para fechar lembrando de outros para os quais devo "aluguel", não posso deixar de mencionar o Luiz da Fibra e o amigo Nei. Luiz ganhou este "sobrenome" por ser um especialista em fibra-de-vidro. Reza a lenda que já recuperou mais de 30 Pumas. Talvez o cheiro da resina tenha sido o responsável por seu jeito meio "elétrico" de ser, mas sem ele a Brasa não teria hastes de limpadores do para-brisa em inox, para-choques remontados e outros detalhes imprecindíveis. Já o Nei, em sua oficina Neicar, talvez seja mais lembrado por ser o único a saber regular perfeitamente o ponto do meu Santana carburado, mas sua contribuição na Brasilia também repete o grau de importância: são dele os freios.
Estas são pessoas que eventualmente passam mais tempo com minha "filha" do que eu mesmo, e em certos momentos se preocupam com ela o mesmo tanto. Assim, se genros são considerados parte da família, eles agora (nada mais justo) também são.

sábado, 19 de setembro de 2009

CARRO-CARRO E CARRO-FUN

Sempre deixei claro para todos e para mim mesmo que esta Brasilia, mesmo com toda a paixão que eu venha a nutrir por ela, é apenas um hobby. Defini que eu teria um carro-carro (na época, o Santana branco) e um carro-fun, um carro voltado para a diversão. Ou seja, o carro-carro seria aquele que me levaria para os lugares e deveria estar 100% disponível, em condições de, a qualquer tempo, pegar uma estrada, por exemplo. Era importante que ele mantivesse o máximo de originalidade e fosse tratado com seriedade, respeito e, emocionalmente falando, com um certo distanciamento.
O caso da Brasilia é diferente. É o carro da liberdade, do relaxamento, para andar nos finais-de-semana, passear com meus filhos e minha esposa (será que ela um dia topa?), ir a encontros de antigos e afins. Chamar a atenção é permitido (quase obrigatório), pois se trata do carro onde ser diferente, quase caricato, faz parte do pacote. Há, entretanto, um outro lado nesta moeda, literalmente: justamente por esta característica de lazer, um tanto supérfluo, a regra é clara: com dinheiro no bolso, investe-se nela. Sem grana, encosta-se a Beringela e espera-se o novo momento propício.
Isto posto, somente depois que consegui o meu novo emprego na Michelin e voltei a morar sozinho, me estabelecendo em Campo Grande (no conjunto de apartamentos conhecido carinhosamente como Bolla's Palace), é que voltei os olhos e o bolso novamente para a Brasa. Isto foi lá no começo de 2005.
Foi nesta época que tive a noção exata de que eu tinha um carro que, na verdade, era uma "casca" a ser cuidadosamente preenchida a meu gosto. A internet oferecia os dois mundos distintos e paralelos: um mar de acessórios e apetrechos estéticos e mecânicos extremamente disponível (salve Mercado Livre!) e as críticas em sites e blogs sobre os exageros cometidos Brasil afora. Termos como "xuning", "baianada", e indagações do tipo "como assassinar um Fusca" indicam os exemplos mais clássicos do que não se deve fazer quando o assunto é personalização. Não por acaso, o único exemplar que foge das críticas ferozes sobre suas "particularidades" é tão somente a Brasilia Amarela dos Mamonas. Até mesmo as reações ao Cadillac rosa de Elvis Presley e ao Rolls Royce psicodélico de John Lennon foram capazes de suplantar a grandeza de seus donos.

Tomado deste espírito de "liberdade vigiada", comecei a montar mais detalhadamente meu projeto. A contra-capa da minha agenda carregava o esboço de uma Brasilia 4 portas vista de cima, com várias informações ligadas e apontadas para cada ponto do carro. O tipo de roda, a cor do estofado, os equipamentos de conforto, os detalhes dos acessórios, a localização dos emblemas, tudo merecia uma referência. Algumas coisas, obviamente, foram abandonadas no desenrolar do projeto, como o neon sob os pedais e nas soleiras das portas, o que, segundo meus colegas de Michelin, transformaria a Brasilia em uma belíssima "penteadeira de p..."! Bom, percebi que não escaparia das brincadeiras e dos comentários irônicos nem se deixasse de instalar algo nela...
Outras idéias entraram em vigor. Comprei um som com entrada USB frontal e um monitor de temperatura interna / externa na viagem que fiz a trabalho para a França. Para completar, um kit de alto-falantes VolksTech (aquele com o logo da Volks cromado no meio) originais da Parati, para as portas, e um par de 6x9 para um futuro tampão sobre o motor. Este, provavelmente, vai dar "munição" para meus amigos pois, opcionalmente, ele pisca no ritmo da batida da música... Bom, talvez eles falem menos do neon sob o carro (relativamente discreto) e dos faróis de lente lisa que providenciei para a dianteira. E desviem definitivamente a atenção para equipamentos mais importantes (e, porque não dizer, improváveis) que estarei instalando e comentando aqui depois.
Outros detalhes mudaram uma centena de vezes, como as manoplas de câmbio e de freio-de-mão. Optei por modelos cromados, fugindo mais uma vez do neon excessivo. A cor dos bancos foi branca, passou pelo cinza claro, bege com laterais roxas e agora fechou no caramelo. Vai dar um bom contraste com a lataria e os detalhes cromados, e ficar elegante. Existem outros pontos onde ainda não "bati o martelo", como no esguicho d'água e nos puxadores das portas traseiras. Mas os parafusos das placas e os bicos das válvulas dos pneus estão comprados. Antena: interna, externa, no teto, "tubarão", com neon??? É, cuidado com a "penteadeira"!...
Não, não estou deveras preocupado com o falatório. Afinal, um carro que mescla os adjetivos "antigo" e "personalizado" sempre carregará a máxima "falem bem, falem mal, mas falem de mim". Deixei em definitivo a passividade para meu carro-carro e a criatividade com bom gosto para meu carro-fun. E venha o que tiver que vir depois...