domingo, 5 de fevereiro de 2012

PARA ANDAR...

...tem que poder parar. Ou, parafraseando a antiga propaganda da Pirelli, aquela da garra da pantera negra, "potência não é nada sem controle". E lá fui eu cuidar de arrumar os freios da Beringela...
Desde que comecei neste emprego em São Cristóvão reparei que, na rua em frente à fábrica, vira-e-mexe algum raro exemplar de veículo antigo dava o ar da graça. Presenças do tipo Corvette Stingray, Dodge Hornet, vans e picapes americanas de várias épocas, clássicos nacionais e até fora-de-séries, como o praticamente desconhecido Garra (vide foto abaixo).


O último visitante foi um Buick Wildcat, típica "banheira" americana. Observei que se tratava de uma oficina voltada para freios, a DJFreios. E, a despeito do nome, não  notei nenhum aparelho de mixagem, pick-ups (a não ser as motorizadas) e sequer uma musiquinha de fundo, ambiente. Admito que não perguntei a origem do nome-fantasia, até por este detalhe ser o que menos me impressionava. Sem muito esforço, é possível deduzir que, se eles "pegam" estas "encrencas" pela frente, tratar da minha singela Brasília seria uma "molezinha". E foi... em termos.
Dificuldade para fazer os freios tão conhecidos e de sobressalentes tão fáceis de se encontrar, nenhuma (a não ser a da minha conta bancária...). Difícil foi fazer a brasa andar. Ela foi deixada lá pelo pessoal da Auto+ aos cuidados do Domingos, um mulato com feições que lembram o Splitter, mentor das Tartarugas Ninja). Isto depois de todo aquele processo de recuperação e ajuste do motor. Entrou na oficina, trocou todos os componentes (praticamente um sistema de freio novo) e foi para a checagem dinâmica na exclusiva "pista de testes" deles: a rua. No final das voltas, acabou a gasolina... Reposto o mágico combustível e de volta à oficina, quem disse que ela dava a partida novamente? Só com nova intervenção de Jorge, da Auto+, a celebridade voltou a desfilar. Se carro tivesse vida (apesar de eu acreditar que tenha), diria que a brasa roxa, incomodada com todo aquele mexe-aqui-mexe-acolá, resolveu pregar uma peça no pessoal da oficina. Enfim, apenas divagações...
 Aproveitando o serviço, checou-se a suspensão que, contrastando com o estado dos freios, apresentava-se em bom estado, pedindo apenas a troca dos rolamentos. Nada que se espante, por dois motivos: enchentes sempre "comem" os rolamentos de qualquer carro, e suspensão de Brasília (basicamente a mesma do Fusca) sempre foi notoriamente resistente. Ou seja, o que foi ruim para um não fez nem cócegas no outro...
Próximo passo (e próxima postagem): elétrica, outro sistema sensível, tal e qual os freios.

domingo, 27 de novembro de 2011

RESTART

A lista á mais ou menos esta: óleo, gasolina, velas, cabos de velas, bateria, tampa do distribuidor, filtros de ar, filtro de combustível, motor de arranque e kits de carburador. E com todo este pacote e a ajuda inestimável do Pedro da Auto+ (a mesma oficina que recuperou meu carro "normal" da enchente), temos uma Beringela andarilha novamente. Claro, ainda com alguns pipocos e engasgos, mas andando. 
Lá se vão mais de sete meses desde a famigerada enchente. Foi depois deste tempo todo que criei coragem para encarar o novo desafio. A primeira tentativa de colocá-la para funcionar foi feita na oficina do Mota, logo ao lado da empresa onde trabalho. Típica "oficina de esquina", lá parecia ser mais fácil (e barato) de dar este pontapé inicial na recuperação. Com isso, "Bonecão" (um mecânico com porte e jeito parecido com o do Sloth do filme "Goonies") foi o indicado para o serviço. Troca de óleo, gasolina, kit de carburador e otras cositas más, gira-se o motor na mão, vários estouros... Bom, depois de quatro ou cinco semanas, Bonecão "jogou a toalha" dizendo que seria necessário desmontar o motor (e ele não tinha espaço para isso lá) pois o combustível estava "voltando"...


Paralelamente eu recuperava meu outro carro na Auto+ e, claro, comentava com Pedro (o proprietário e gestor da oficina) as tentativas e frustrações da Brasília nas mãos de Bonecão. Ele então me propôs levar a brasa para lá, para termos condições de colocá-la novamente "de pé". Relutei mas acabei aceitando, e Pedro convocou uma equipe para empurrá-la até suas instalações.
Lá o serviço ficou a cargo de Jorge, o seu mecânico mais experiente. Afinal, não teria muito cabimento dar esta responsabilidade para um mecânico mais novo que, provavelmente, nunca "fuçou" um motor carburado, que dirá duplamente alimentado. Acostumado aos sistemas de injeção, módulos e outras traquitanas eletrônicas, não se sentiria confortável e seguro para mexer no (por nós) admirado motor "a ar".


E não demorou muito para que Jorge alcançasse este objetivo, principalmente depois da troca da bateria e do motor de arranque, este completamente tomado pela lama. Aliás, aqui cabe um comentário: consegui um motor de arranque novo, pelo Mercado Livre, de uma marca aparentemente confiável (com um bom site montado na internet e tudo), entregue em mãos, bem mais barato do que um recondicionado à base de troca nas oficinas / lojas da região. Coisa de cem reais de diferença, quase. Ou seja, vale a pena pesquisar sempre!


Ainda restam, claro, alguns ajustes: motor de dupla carburação já é difícil de se regular estando novo, que dirá saído de uma experiência "anfíbia"... O alternador não foi mexido e o escape (com buracos de ferrugem) não inspira confiança. Mas tenho certeza de que logo chegaremos lá.
Próximo passo: freios! Afinal de contas, para se poder andar, tem que se poder parar...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

26 DE ABRIL DE 2011

Muitas pessoas dizem que morrer é nascer de novo. E desde o dia 26 de Abril de 2011, eu torço para que isto seja realmente verdade. Não, nenhuma pessoa morreu, ninguém do meu convívio perdeu a vida, mas podemos dizer que um pedaço de vida, ou a energia demandada durante um bom tempo de vida se foi.
Tom Jobim cantava as "Águas de Março" há algumas décadas atrás, mas no Rio de Janeiro, há dois anos pelo menos, temos as "águas de Abril". Não vou entrar aqui no mérito dos motivos que levam as enchentes a acontecer, nem seus responsáveis, pois, no íntimo, todos nós sabemos. Mas, até esta fatídica citada data, eu não tinha a dimensão exata do que uma enchente pode causar.
Eu trabalho no bairro de São Cristóvão, no Rio, não tenho garagem para meus carros e não me sinto seguro de deixá-los nas ruas do meu bairro (a mundialmente famosa "princesinha do mar" Copacabana). Ficamos à mercê da extorsão dos "vagas-certas" e "flanelinhas", dos ladrões de CD Players, dos vândalos e até dos que pensam que seu carro é mesa de bar. Já contabilizei três arrombamentos, onde até carrinho de bebê do meu porta-malas já levaram, fora os dois aparelhos de som, os vidros quebrados e uma porta arregaçada. Some-se a esta lista um "belo arranhão" no capô e vejo que tenho mesmo o que temer. Por conta disso, optei por deixar meus carros estacionados em frente a empresa que trabalho, algo notadamente mais seguro e econômico.
Infelizmente, na madrugada do dia 25 para 26 de Abril, choveu "mais do que deveria" no Rio, exatamente da mesma maneira que ocorrera um ano antes. E a água chegou até um nível acima do insuportável. Minha empresa ficou alagada, e claro que tudo que estava na frente dela e num nível mais baixo, também... Quando cheguei para trabalhar e encontrei aquele caos todo, juro, deu vontade de chorar... Foi um misto amargo de raiva, tristeza e impotência difícil de descrever na hora e mesmo agora. Mas, como responsável pela manutenção da fábrica e ainda desnorteado, tive que deixar tudo na rua e trabalhar na recuperação da empresa, que tinha que voltar a produzir (era o início de uma terça-feira, afinal). Os vizinhos relataram que era apenas a segunda vez que isto acontecia nos últimos vinte anos! Uma oficina teve 30 mil de prejuízo com 3 módulos de um Mini Cooper, os restaurantes da região passaram uma semana fechados por falta de água potável, dentre outras tristezas do gênero.
Encurtando a história, a conta para recuperar o meu carro "sério" (um modelo 2000/2001) eu parei de somar quando chegou a 5 mil... e ainda não ficou 100%. E a Brasília, a minha "filhinha", minha Beringela de tantas histórias e tanta dedicação, eu levei três meses para ter coragem de mexer. Da série de peças e acessórios que mantinha no porta-malas, muita coisa foi direto para o lixo. A gasolina e o óleo estão da cor de Toddynho, e já encontrei de tudo preso embaixo dela, de porta de armário a camisinha...
Na esperança de que 2012 seja melhor que o 2011 que acabou em Abril, há alguns dias atrás coloquei a brasa na mesma oficina que recuperou o outro, para vermos que caminho percorrer e, quem sabe, fazê-la renascer...

domingo, 29 de maio de 2011

MUDANÇAS

Como muitas coisas aconteceram (e vem acontecendo) nas últimas semanas, vou dividir os últimos fatos em alguns posts, para manter a ordem cronológica.
Para começar, Ademir... tomou Doril! Se o laboratório fabricante do mencionado medicamento me permite parafraseá-lo, meu digníssimo estofador realmente sumiu. Um mês sem notícias e a Beringela está como estava. Não se pode confiar plenamente em ninguém mesmo... Como eu vinha pagando o cidadão conforme o serviço ia sendo entregue, não me senti propriamente dotado de um prejuízo financeiro. O prejuízo é no tempo, mesmo, de dedicação e na ansiedade para ver este carro pronto.
Como o apoio de braço do banco dianteiro havia sido "guardado" (na verdade, esquecido) na antiga oficina onde o conheci, resolvi entrar em contato por rádio com seu chefe Allan. Tive que responder a mesma pergunta inúmeras vezes (porque não entrei em contato direto com ele desde o começo). E vi também toda a sua insatisfação (esta é a palavra bonita que achei para expressar o sentimento dele) com o seu (agora) ex-funcionário. Fiquei sabendo que o meu (agora também) ex-estofador andou dando voltas pela Avenida Brasil, acabou enguiçando por falta de gasolina, entre outras temeridades que, pessoalmente, prefiro nem investigar a fundo. No final, acabei indo até a oficina e retirando o apoio, guardado em um "armário-geladeira" (uma geladeira usada como armário) e ele (o apoio) sequer tinha as costuras completamente feitas. Nem preciso mencionar minha decepção.


Unindo esta situação ao fato de Gilberto encontrar-se em vias de negociar sua casa com uma empreiteira que está criando condomínios na região, decidi retirar definitivamente a Brasília de lá. Como o carro estava sem condições de andar, utilizei os serviços da garantia da bateria Heliar e, depois de negociar com o mecânico volante, chamei o reboque. Foi divertido e ao mesmo tempo perigoso acompanhar o transporte da brasa na boléia do guincho-plataforma sem um cinto de segurança decente. Optei por levá-la para São Cristóvão, mais precisamente para a frente da empresa onde trabalho. A região é pródiga em matéria de oficinas, e a possibilidade de estar vendo o carro todos os dias deveria fazer a reforma andar mais rápido. Além do mais, com meu MBA sendo feito em Niterói nos finais de semana, as "viagens" de sábado para Big Field estavam definitivamente comprometidas.
No primeiro dia útil seguinte, muitas perguntas e elogios a meu bólido. E a expectativa multiplicada com todos sobre o fim dos trabalhos e a apresentação do resultado final.

terça-feira, 15 de março de 2011

NOTÍCIAS DO FRONT

Admito que fiquei muito tempo sem postar novidades aqui. Parte pela minha dedicação ao Brasília Clube (brasiliaclube.blogspot.com), parte pela própria falta de novidades mesmo. Depois dos trabalhos feitos com Claudinho, parti para uma nova empreitada: a forração interna. Em um passado longínquo, visitei duas lojas de capotaria em Campo Grande: uma na Estrada do Monteiro e outra na Estrada do Cabuçu. Na primeira, quem me atendeu na época foi o Zé Carlos, que parecia "entender do riscado", principalmente quanto à instalação dos bancos dianteiros, que ainda não estavam fixados ao assoalho. Porém, ao descobrir que se tratavam de modelos com regulagem elétrica, ele declinou do trabalho, alegando que não poderia fazer a instalação "mecânica" enquanto a elétrica não estivesse devidamente operante. Cá entre nós, uma coisa não interfere na outra... Além disso, ele relatou que perdeu a ponta de um dos dedos ao trabalhar em uma Brasília (alguma semelhança com outro VW conhecido?), quando a tampa traseira voltou à posição aberta por conta da mola que, de fato, é forte. Ou seja, ele não nutria propriamente "amor" pelas Brasílias... Isso me deixou ainda mais ressabiado, e como tinha outras prioridades na época, não insisti muito.
No Cabuçu, fui atendido pelo Alan. Naquele momento, não estava com a brasa, mas expliquei tudo para ele quanto à instalação dos bancos e, como esperado, ele não colocou impecílios que não existiam. Inclusive explicou como procederia, baseado em experiências anteriores. Fiquei satisfeito e tentado a realizar o serviço com ele, mas a Brasília ainda estava na pintura e ficamos apenas na sondagem.
No final do ano passado, carro pintado, resolvi que era hora de tratar novamente deste assunto. Procurei pelo Alan, mas sua loja estava sempre fechada, especialmente aos sábados, algo bastante incomum. Depois de algumas semanas, para não perder mais tempo, dei nova chance ao Zé Carlos, levando-o até a Brasília e mostrando o serviço a ser feito.  Decidimos que começaríamos pelo assoalho e pela instalação dos bancos, ficando condicionado apenas ao mesmo pegar o carro no final de semana seguinte e levar para sua loja. Este "final de semana" perdura até hoje, pois Zé Carlos nunca apareceu, deu uma série de desculpas e em outros momentos, não atendeu aos meus telefonemas. O detalhe é que a loja fica a um quilômetro, no máximo, da oficina do Gilberto.
Sem opções, fiz nova tentativa no Cabuçu. Na loja, não encontrei o Alan, mas sim Ademir, seu funcionário, que prontamente se colocou à disposição. Também o levei e mostrei o carro, acertamos valores, mas resolvemos fazer o serviço "por fora" da loja, o que sairia mais barato para mim e mais lucrativo para ele.
Ademir atualmente está executando o serviço, com a promessa de entregar o carro pronto no próximo final de semana. E, como parece ser característica de tudo que acontece com esta Brasília, está levando muito mais tempo do que o esperado... Mas tudo bem: abaixo o resultado (obviamente parcial) da forração. E os detalhes deste serviço e o carro pronto eu mostro na próxima postagem que, espero, não demore tanto...

P.S.: Os bancos dianteiros não aparecem nas fotos mas estão devidamente forrados, e as laterais de porta eu ordenei que fossem refeitas, pois Ademir "terceirizou" o serviço e o resultado foi medonho (para não dizer outra coisa)...

sábado, 25 de dezembro de 2010

PRESENTE DE NATAL

Natal é sempre uma época especial para mim. E isto não se resume ao dia 25 de Dezembro... Uma ou duas semanas antes já dá para se sentir o clima no ar, um "sei-lá-o-que" diferente. Mesmo hoje, com tudo tão corrido nesta nossa "vida moderna", este sentimento ainda persiste. Acredito que meus vários anos de grupo jovem de igreja católica, com celebrações, encontros, vigílias e outros eventos dos quais participava nestas épocas contribuam bastante para isto. Mas é quanto a essência que me refiro: o encontrar o "presente" no outro, no próximo, naquele que faz parte da sua caminhada mesmo que por instantes.
Sábado passado reencontrei o prazer de dar umas voltas com minha Beringela. Coloquei gasolina, dei um "banho de gato" nela e fomos rumo ao Tonhão, uma loja de peças e serviços com duas unidades em Campo Grande. Fui em busca de novas soluções para problemas antigos: maçanetas que não abrem, pinos que não travam e um friso sumido. E se sobrasse tempo, umas coisinhas mais.
Loja cheia (sábado de sol, né?), eu já cheguei achando que a tarefa seria mais árdua que a esperada. Até levei um tempinho para ser atendido no balcão, e depois de apresentar minhas necessidades, foi dito que quem me atenderia seria um tal de Claudinho, e que eu aguardasse. Enquanto isto, fiquei observando os outros serviços: no geral, uma galera jovem voltada para a substituição de parabrisas quebrados e instalação de acessórios para veículos semi-novos. Ou seja, difícil acreditar que alguém dali realmente entendesse da minha "velhinha" e suas peculiaridades.
De repente, eis que surge uma figura baixa e franzina, um "coroinha" de poucos cabelos desgrenhados, com olhos claros meio saltados, roupa surrada e cigarro na mão. Pode-se dizer: lembrava bem o Gollum Smeagol do Senhor dos Anéis... Pois é, era ele mesmo, Claudinho.


Mesmo sem, num primeiro momento, não dar nada por ele, expliquei para o camarada o que esperava que fosse resolvido nas maçanetas, ou seja, que elas fizessem o que nunca fizeram na minha mão: abrissem e fechassem do modo correto. E a resposta foi surpreendente: "ótimo, por que eu gosto de trabalhar com carros assim!" E naquelas três horas que se seguiram, eu vi que ele gostava realmente, diante do esmero que aplicava em cada detalhe. As maçanetas, os pinos de trava e até a trava de crianças das portas traseiras ficaram 100%. Ele trocou a borracha do pára-brisa e colocou o friso cromado que eu trouxe, repondo o sumido durante o sequestro. Como ele mesmo salientou, não é qualquer um que sabe fazer aquele trabalho e usa a técnica apropriada para isto. Instalou ainda um friso cromado na calha de teto, o mesmo que meu lanterneiro admitiu não seu capaz de colocar. Ajeitou o friso da caixa de ar que estava soltando, e deu todas as dicas sobre as borrachas (canaletas, pestanas, etc.), máquinas dos vidros elétricos e mola da portinhola de combustível, para que eu consiga recuperá-los devidamente em um futuro próximo. Ou seja, uma aula dada com prazer, entre um cigarrinho e outro, por alguém que gosta do que faz, conhece muito e, mesmo assim, mostrou-se humilde ao extremo.
E isto tudo me deixou tocado, realmente. O desprendimento e a humildade que hoje quase não se vê. Como eu disse, encontrar o presente no próximo, na essência. Foi isto que eu consegui, no lugar inesperado, de onde nem se podia imaginar. De forma inusitada, um baita presente de Natal!

domingo, 7 de novembro de 2010

BARATA E KAZU

Acho que já escrevi isto aqui... Portanto, me perdoem se estiver sendo repetitivo. Mas é fato que uma das coisas mais interessantes quando falamos, expomos, escrevemos, ilustramos e dividimos nossas paixões com outras pessoas, é o retorno que nos é proporcionado. Este retorno pode vir sob a forma de informações, conhecimento, novos contatos ou mesmo amizades novas. Nos últimos tempos (e, claro, por conta da brasa roxa) tive duas experiências deste tipo.
Primeiro, em busca de polainas cromadas para a Beringela, conheci o gente fina José, vulgo "Barata". Nos encontramos em Campo Grande para concretizar o negócio de três polainas (eu já tinha uma quarta unidade) e o que era para ser algo rápido e formal se transformou em um papo de mais de uma hora, sobre os mais variados temas: carros, trabalho, oficinas, Dodges (Dart, Charger, etc., suas paixões V8) e até conselhos matrimoniais. Esta última eu explico: quando mencionei que vinha visitar minha "amante" todo sábado, que gastava tempo e grana com ela, ele passou a dissertar sobre as implicações de "pular a cerca" e como isto poderia afetar o meu casamento. Ou seja, ele realmente acreditou que eu tinha uma "amante mulher do sexo feminino", de carne e osso! Desfiz o mal-entendido e rimos muito sobre tudo aquilo! Um barato este Barata! (com o perdão do trocadilho). Gente fina e simples, me convidou para ir até sua casa, coisa mais comum entre os amigos que moram em bairros afastados do centro, difícil entre os habitantes da zona sul do Rio, hoje muito mais distantes e desconfiados entre si. Declinei do convite pois não queria me estender muito e deixar minha esposa preocupada, me esperando. Mas me senti agradecido e feliz por conhecê-lo.

A outra experiência foi ainda mais proveitosa e, por que não dizer, "aventureira". Fechei a troca de algumas peças sem uso minhas por uma bomba de gasolina cromada Brosol, com direito a kit de reparo novo incluso. Acabei sendo acordado com o telefonema de Sérgio, o "Kazu", numa manhã de sábado. Admito que, "bêbado" de sono, não entendi direito quando ele disse que me encontraria com uma TL vinho. "TL vinho?", pensei. E, de fato, na hora combinada, surgiu uma "Tereza Loca" vinho, dotada de vários acessórios de época, como conta-giros, pestanas de faróis, frisos de caixas de roda, calhas de chuva e calotas cromadas. Um espetáculo o carrinho! E este é o carro "de andar" dele, que aboliu carros mais novos de seu dia-a-dia.
Como eu estava à caminho de Campo Grande, Kazu me deu uma carona até Bangu (o meio do caminho), não sem antes fazer algumas "escalas" para me apresentar seu mecânico, mais um camarada que negocia itens nas feiras de antigos, a oficina onde ele manda cromar peças, além do vizinho responsável por colocar nele o vírus do gosto por VW's a ar. E também passamos na casa de Fernando, seu amigo que havia adquirido uma Brasília ótima e estava trabalhando para deixá-la ainda mais original. Ou seja, a simples carona acabou virando uma verdadeira "viagem cultural" pelo mundo volksmaníaco.
Conversamos bastante sobre o mercado destes carrinhos, a reação de nossas esposas sobre nosso "vício", suas experiências no futebol profissional e muitas outras coisas. Ainda estamos nos contatando e nos auxiliando, como no caso em que indiquei a venda de um capô de um vinco (da primeira geração da Brasília) por um bom preço, fazendo com que Kazu e Fernando participassem de uma "peregrinação" até a casa do vendedor (com êxito, claro). Ainda vou descobrir onde ele manda polir suas rodas... E tenho certeza que mais colaborações desta ordem vão acontecer, seja para incrementar a brasa bege de Fernando, seja para os TL, Fusca e Zé-do-Caixão de Kazu.
Afinal de contas, nem tudo que se ganha nesta vida se mede em reais, não é mesmo?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A AMANTE

No começo, eu dizia que era minha filha. No bate-papo de internet mandava a foto dela entitulada assim mesmo: "Minha Filha". Afinal, tem que alimentar, dar banho, levar ao "médico"... Aliás, ainda me refiro a ela deste jeito quando trato com os mecânicos. Mas... Uma filha dois anos mais nova do que eu não "cola", não é mesmo? E o jeito como tem sido nossa relação nas últimas semanas pode até dar motivos para minha esposa pensar que, de fato, o que tenho é uma AMANTE.
Raciocine comigo: faz com que eu pense nela em vários momentos, em outros leva minha grana de modo desavergonhado, tenho que esconder de minha esposa parte do que faço e do que gasto com ela e, normalmente, toma um bom pedaço de um dia da semana (no meu caso, as manhãs de sábado) para dedicação exclusiva. É ou não é uma verdadeira amante?!?
E quando eu digo "tomar um pedaço do dia", é um bom pedaço mesmo: Campo Grande fica a dois ônibus e/ou uma hora e meia de viagem da minha casa. E é lá neste bairro que estão as oficinas, as "casas temporárias" de minha "amante vestida de roxo". Ela pode não sair por aí a noite nua sobre um cavalo, como fazia Dona Beija (a amante de D. Pedro I), mas ocupa o "cargo" há quase tanto tempo quanto ela ocupou com o Imperador (seis anos), esta minha Dona Beringela... Adotei esta estratégia de vê-la e realizar algum serviço nela todo final de semana de olho no objetivo maior: concluir a reforma ainda em 2010. Sejamos perseverantes e disciplinados pois!

Pois bem, voltemos ao "diário de bordo": depois da pintura, Dona Beringela ganhou finalmente seus acessórios cromados: lâminas dos para-choques, pára-barros traseiros, grade da surdina, saídas de ar da coluna traseira, frisos das caixas de ar e "churrasqueiras" do capô dianteiro. E os ostenta hoje como verdadeiras jóias, brilhantes e chamando a atenção... Jorginho alegou dificuldades maiores para não instalar os frisos das calhas de teto. Será que ele achou que deveriam ser encaixados? (na verdade, são colados) Outros pontos ficaram devendo na montagem: uma janela ficou "solta", as borrachas do santo-antônio dianteiro (compradas para a ocasião) não foram instaladas, "sobraram" pestanas e quase nada do "setor elétrico" funcionava: retrovisores, vidros, luz do painel, setas, bateria moribunda... Estes últimos pontos me fizeram tomar a decisão quanto ao próximo passo: levar o carro de volta para Gilberto. Afinal, foi ele que instalou e cuidou da maioria destes itens, além de ter instalado o ar condicionado que, depois de tanto tempo parado, resolveu fazer "greve em sinal de protesto". E lá fui eu levar, depois de meses mantida sob o mesmo teto, minha "amante roxa de orgulho" para um "passeio"...
Gilberto mais uma vez a recebeu com hospitalidade. Só não foi mais prazeiroso o reencontro por ter sido informado dos seus problemas de saúde, que hoje exigem fisioterapia, paciência e perseverança do meu amigo para curar seu combalido braço direito. Mauro, seu fiel escudeiro, continua lá, imprescindível como nunca nesta fase de recuperação de Gilberto.
Claro que Gilberto não gostou do que viu (me refiro ao trabalho de montagem de Jorginho e Cláudio). E ainda não conseguiu trazer à vida os "angel eyes" de minha "amante", uma de suas características mais marcantes. Mas se os "olhares" lançados por ela não serão "gelados" por enquanto, o interior será: trocou-se uma válvula emperrada e uma nova carga de gás fará o ar condicionado voltar à ativa. Fechei com ele também a estadia remunerada para as próximas semanas, marcando como um QG sua oficina, de onde aos sábados tirarei a brasa, executarei os serviços e a retornarei para mais uma semana de descanso em meu aguardo.
Por fim, minha Beringela ganhou uma nova bateria. Busquei o melhor: Heliar 65 ampéres. Além do desconto pelo retorno do casco antigo, ganhei mais: um ano e meio de garantia, dois reboques grátis por pane elétrica e assistência técnica próxima fisicamente ou no 0800. Como disse o vendedor da Marphisa, onde comprei a ditacuja, a Heliar (no caso a Johnson Controls, sua fabricante) "está podendo"! E pelo jeito, minha "amante" também...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ROXA DE NOVO!

Eis que da tinta se fez nova vida: minha Beringela está roxa de novo! Demorou, foi sofrido, na base da insistência, mas finalmente, depois de todos os ajustes necessários, Jorginho usou todo seu talento e cuidado para pintar novamente (que, Deus queira, seja a última vez!) minha brasa roxa. Juro que ainda me impressionei quando vi o carro todo brilhante, resplandecendo na oficina de pintura... É nessa hora que tive a certeza da escolha correta! Foi quase como se reencontrasse um velho amigo (no caso, amiga). Parei e fiquei observando, apreciando as linhas do carro, seguindo os detalhes, meio bobo, sem dizer uma palavra... Certamente isto me deu um novo ânimo para seguir em frente e com mais dedicação este projeto.
Me ressenti apenas de não estar com uma câmera na hora, para registrar este momento. Nem um celular por perto, para aquela fotinha de baixa qualidade, na tentativa de ilustrar um pouco o motivo da minha alegria naquele instante... De todo modo, vou lembrar de levar uma digital quando começar a montagem e instalação dos acessórios. E depois de pronta, claro, vou fazer todos "enjoarem" de ver Brasília roxa! hehe
Uma coisa que tenho feito nestes últimos dias, até em função da reforma mais lenta que o desejado, é me dedicar a conhecer mais pessoas que, como eu, também apreciam a VW Brasília e, por vezes, além de gostar, são também proprietários apaixonados por uma das mais de um milhão de brasas produzidas. E fiz isto não somente com a criação do Clube (brasiliaclube.blogspot.com) e com as postagens sobre a brasa roxa neste site, mas explorando outros meios de contato também. A internet é o grande veículo, através de seus fóruns, blogs e sites especializados, e permite que pessoas com um interesse em comum mantenham contato, mesmo estando em diversas localidades ao redor do Brasil e, porque não dizer, do mundo. Tanto que, como curiosidade, a primeira pessoa que solicitou ingresso no Brasília Clube foi um morador do Paraguai e que possui há dez anos uma bela Brasília personalizada, com seus para-choques (ou seriam parachoques?) envolventes, saias laterais e lindas rodas, em um trabalho de muito bom gosto. Exemplo de "brasa-paixão" além das fronteiras. E paixão, como se diz, justifica tudo, até mesmo pintar uma Brasília de roxo! :))
Por falar em pintura, como não consegui tirar fotos desta etapa do trabalho, resolvi buscar algo para ilustrar (como gosto de fazer) mais este capítulo da "Saga da Beringela". Como a tinta adquirida e aplicada (a já famosa Roxo Rossetti) é da marca Wanda, fui atrás de alguma coisa relacionada a esta marca, e encontrei esta (vamos chamar assim) "peculiar" propaganda... Quem me conhece sabe que admiro profundamente o pessoal de propaganda e marketing. Tenho amigos que trabalham tanto na criação quanto na arte final, e fico sempre impressionado com a habilidade e, principalmente, com a criatividade deste povo. Agora, é certo que muitas vezes, sem querer (ou não), eles tentam nos dizer uma coisa e acabam nos deixando entender outra beeem diferente... Não concorda?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

BRASÍLIA CLUBE

Caros amigos,
Enquanto a beringela não dá o ar da graça (e o lanterneiro não para de me enrolar), resolvi fazer algo que já pensava fazer há tempos: fundar um clube para a VW Brasília, o BRASÍLIA CLUBE (http://brasiliaclube.blogspot.com/). Nada mais justo que um carro com mais de um milhão de unidades fabricadas tivesse seu próprio clube. É óbvio que nada tenho contra os clubes de Fuscas e derivados que cordialmente aceitam a presença da Brasa em seus domínios e encontros. Mas já era hora de alguém contar a história linda deste carro em detalhes, as mudanças ao longo do tempo, os causos, as curiosidades, etc.


Assim sendo, se você tem uma Brasília, nova ou caidinha, brilhando ou reformando, original ou personalizada, ou se não tem nenhuma mas simplesmente admira o carro de maior sucesso da família Fusca (depois do próprio, claro), junte-se a nós: mande um e-mail para essenfelder2003@yahoo.com.br, com os dados e fotos (se possível) do seu possante para fazer parte deste novo clube. E acesse o site e deixe sua história também. Ou vai dizer que voce nunca andou numa ou jamais soube de alguma história envolvendo uma Brasília???

terça-feira, 29 de junho de 2010

LOUCOS MICHELIANOS...

Faz dois meses que eu divulguei neste blog o início das "atividades 2010" na lataria da minha ilustre Beringela. Neste período, alguma coisa mudou, algo foi feito, mas sem a velocidade que eu gostaria. Com a chegada do meio do ano, a noção de que o tempo está passando e o carro não fica pronto, a ansiedade me tomou de vez. É um risco, visto que a velha máxima da "pressa inimiga da perfeição" prevalece. Mas acho que eu já dei tempo suficiente para as coisas acontecerem. Assim, passei a acompanhar mais de perto esta reforma, aumentando a frequência das visitas para duas, até três vezes por semana.
Cláudio fez um bom trabalho: os pontos de ferrugem foram eliminados, os trilhos dos bancos dianteiros estão instalados, caixas de ar trocadas e algumas outras coisas. Cumpridor da minha palavra, fechei com o irmão de Cláudio, Jorge, o trabalho de pintura, restaurando o brilho da cor roxa "original" da Essenfelder Brasilia.
Jorge (ou Jorginho, como o cara da loja de tinta se referiu) é um pintor conhecido na região. Já vi alguns trabalhos seus "in loco" e gostei do capricho. Pessoa simples e de bom trato, nos mesmos moldes do irmão. Como curiosidade (tudo na história desta Brasilia tem alguma curiosidade), nosso pintor não possui um pedacinho da orelha direita, como se tivesse sido mordido por um cachorro. Eu não perguntei ainda o motivo. Só espero realmente que a mordida tenha sido de algum cachorro, e não de um cliente insatisfeito ou de algum carro pintado por ele... hehe
Brincadeiras à parte, conforme orientado, Jorginho aplicou "batida de pedra" (tinta protetora emborrachada) no interior dos para-lamas dianteiros, e fará o mesmo nos traseiros, assoalhos, interior das portas, teto e habitáculo da Brasa. Os objetivos são reduzir o ruído interno e evitar que qualquer ferrugem "sonhe" em atacar este carro novamente. Também ficou sob sua incumbência recuperar os retrovisores com fibra de vidro e pintá-los (separado do carro) para reinstalá-los a posteriori. E que o "posteriori" não demore muito, pois quero logo dar algumas voltas com meu bólido reluzente...

Este mês estou de saída da Michelin. E isto envolve três aspectos: primeiro, vai ficar um pouco mais difícil acompanhar o trabalho por conta da distância (visitas, agora, só nos finais de semana). Por outro lado, vou ter um pouco (eu disse um pouco) mais de grana para aplicar no projeto. Por fim, vou perder grande parte do contato com meus colegas de Michelin que, como voces podem ler em um capítulo anterior ("A Maldição da Brasília Roxa") já fazem parte desta história.
Um destes amigos, inclusive, fez questão de me acompanhar em uma visita à oficina semana passada. Fábio gosta de inventar "histórias mirabolantes" sobre a estadia da Brasilia nesta oficina. Diz que teria um cavalo pangaré amarrado nela, que as galinhas estariam ciscando e colocando ovos sobre os bancos, entre outras doideiras do genêro. Devem ser fruto da sua imaginação do tempo em que habitava a roça... É fato que a oficina tem um grande terreno à sua volta, com árvores, carros, peças, terra batida e espaço para atividades pertinentes. E é fato também que Fábio quis, de todo modo, tirar uma foto minha ao lado da Beringela em reforma (perdoem a baixa qualidade da mesma tirada com o celular dele). Pior do que isto, colocou a foto como "papel de parede" de seu telefone!... Eu não quero nem imaginar o que sua esposa vai pensar quando vir isto...
Pois é, meus caros, vou sentir saudades destes loucos michelianos...

domingo, 11 de abril de 2010

O RERECOMEÇO

E mais uma vez, a Brasa está na reforma... Desde que eu a adquiri, no final de 2002, vai ser a terceira que envolve trabalho de funilaria e pintura. Na primeira teve o episódio da mudança para o Rio. Na segunda, o sequestro. Que a terceira (e, se Deus quiser, definitiva) não traga "novidades" do gênero!...
Depois do acontecimento da "Maldição da Brasilia Roxa", fui formalmente convidado a retirar a Brasilia do estacionamento da Michelin. E nem posso falar nada do pessoal do BSI (o departamento de segurança patrimonial da empresa): os caras foram super cordiais, compreensivos e ainda me deram um tempo para bater o martelo na questão da reforma. Afinal de contas, o errado era eu. Eu que desse uma solução para o caso. E assim fiz.
Venho há algum tempo pensando em deixar a beringela aos cuidados de uma oficina que fica a poucos metros da Michelin. O que me chamou a atenção lá foi a placa que enunciava os serviços: Lanternagem, Pintura, Fibra de Vidro, Solda... Uma gama de propostas que nem sempre são vistas juntas. O lanterneiro (ou o cara que trata da lataria, para os que não são cariocas entendam) normalmente não mexe com fibra. Se mexe, SÓ mexe com isso. O soldador normalmente não pinta, o pintor não toca na mecânica e assim por diante. Lembro-me que, num passado um pouco distante, meu pai chegou a levar a Brasilia lá, para trocar o "chapéu de Napoleão", e de fato mais de uma pessoa "tocava" a oficina. Talvez isto explique tantas facetas reunidas.
O fato é que meu bólido agora está sob os cuidados de Cláudio, um camarada com cara de gente honesta, que fala pouco e ri pouco, mas que trabalha bem. O bom trabalho de reparo da "cratera lunática" que se formou junto à tampa do motor não me deixa desaboná-lo... Não vou falar de valores (que ficaram dentro do normal), mas a combinação foi a tradicional "metade agora, metade na entrega"; afinal, não quero um "novo Galo" na minha vida. E se o trabalho for bem feito, o irmão dele "ganha" a pintura. Um bom acordo, sem dúvida.

Na conversa, pude ver que ele entende do assunto, e que eu já aprendi um tanto desde que esta "saga brasílica" começou. Mais uma vez as caixas de ar foram condenadas, nem tanto pela ferrugem (como da primeira vez), mas pelo trabalho "esplendoroso" executado na segunda reforma... E no pacote de novas peças, os dois trilhos dos bancos dianteiros serão instalados: assim, poderei adaptar os bancos de Tempra, isto, claro, tão logo encontre duas bases de banco de Brasilia a um preço camarada...

Cláudio começou por sacar os para-lamas (ou paralamas, quem sabe mesmo as novas regras ortográficas?) dianteiros, e uma caça aos buracos de ferrugem começou. Me pediu quarenta dias, que viraram um pouco mais por conta do Carnaval. Sim, quero o carro logo, mas deixei claro para ele que, mais importante que o prazo cumprido, o serviço deve ser bem feito.
O meu objetivo é ser o "chato da vez". Ou seja, qualquer coisa que esteja fora do planejado ou que não tenha ficado bem feito tem que ser acertado. Até porque, é provável mesmo que o irmão de Cláudio fique com a pintura (vi um serviço dele em um Fusca e gostei do resultado). Isto facilitaria as coisas, pois não precisaria remontar o carro para levar para outro lugar, para começar tudo de pintura por lá. Mas vamos passo a passo, e em cada passo tudo tem que estar OK. Afinal, não quero nem ouvir falar de lanternagem/pintura depois que o carro sair de lá...
Por fora, venho tratando de adquirir outros itens que serão usados na fase de montagem. Fiz uma extensa pesquisa por sites de venda de peças e descobri algumas boas opções (no final, segue uma listinha). Adquiri no Guedes & Miranda uma série de itens cromados: churrasqueiras do capô, grade traseira (que cobre o abafador), saidas de ar da coluna traseira, frisos das calhas do teto e os frisos das caixas de ar. Aproveitei e mandei vir também um par de lanternas traseiras fumê, pois as minhas estão bem ressecadas. As polainas de para-choque cromadas eles só tem um par. E ainda falta tanta coisa...
Como disse algum "filósofo automotivo" certa vez, "um carro nada mais é do que um extenso quebra-cabeça (quebracabeça?) de metal, plástico e borracha que, no final, pasmem, ainda anda!" Pois é, meu caros: ô quebra-cabeça mais apaixonante!...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A MALDIÇÃO DA BRASILIA ROXA!

Não se espante com o título: este capítulo é mais hilário do que trágico, e mostra a incrível capacidade de minha Beringela atrair histórias. Devidamente estacionada no pátio da Michelin aguardando seu dono ter um mínimo de grana e tempo para dar-lhe um trato, o já mencionado veículo resolve "antecipar" as coisas e, para isto, chamar atenção: eis que, "por encanto", surge o pneu traseiro esquerdo vazio... Como o estepe encontra-se furado, depois de avisado por meus colegas da situação vigente, providenciei para o trabalho um mini-compressor Schulz (conhecida marca alemã, porém produzido na China... vai entender!). Havia uma segunda dificuldade: minha Brasilia (assim como todas as que conheço) originalmente não possui isqueiro. Logo, não teria como ligar o compressor nela.
Para auxiliar nesta parte, prontificou-se meu amigo e colega Rogério, mais conhecido como "Topete" devido ao seu penteado, por assim dizer, "exótico". Ele, que tem utilizado de grande esmero na reforma de seu Puminha "Tubarão", dispôs de seu Gol "bolinha" (meio "baleado", é bem verdade) para a tarefa. Data e hora marcada, fomos nós para a operação de "resgate". E começam as surpresas... Primeiro, o compressor, ligado no isqueiro, nem deu sinal de vida... Após fazermos um teste, concluímos que o isqueiro (e não o compressor) estava inoperante. E, de quebra, além de não enchermos o pneu, ainda fomos obrigados a trocar um do Golzinho, que estava "no chão". Mas não pense voce que o título veio tão somente deste evento. O melhor ainda estava por vir...


Segunda tentativa! Véspera de Natal, trabalhando naquele dia ingrato de quatro horas lá e quatro no trânsito, contamos com a "colaboração" da rede de computadores fora do ar para termos tempo para a nova missão. Esta foi a vez de Klaus Riebold (vulgo "Alemão") prontificar-se com sua Uno. (Nota da redação: nos referimos a "sua Uno" e não ao "seu carro Uno", uma vez que, por princípio -- e especialmente bom senso -- Uno não é carro, Uno é Fiat...). Topete resolveu acompanhar-nos e igualmente prestar auxílio.
Já estacionada ao lado da Brasa, Klaus abriu a porta do passageiro, ligamos o plug no isqueiro, colocamos o compressor sobre a Uno e Topete resolveu ligá-lo para teste. Temi pela saúde do Alemão: a barulheira (algo similar a uma britadeira) sobre o teto prata da Uno fez o coração germânico de meu colega disparar! E sob os berros de "tira esta p.... do meu teto", Topete conseguiu desligar o aparelho e acabar com o estardalhaço... Tinhamos um notável "compressor-cabrito" na mão, um ser que, quando em ação, andava sozinho!
A operação de encher o pneu foi, em si, um sucesso. Tentamos ainda com o estepe que, pelo jeito, está mesmo furado. Desmontamos o aparato, guardamos tudo e, tentando fazer graça, o Alemão ainda deu a partida na Uno e se mostrou "extremamente aliviado", como se cinco minutinhos de mini-compressor fossem capazes de descarregar uma bateria. E foi nesta hora que apresentou-se a "cereja do bolo"...
Imaginando ter entrado pela porta do motorista, Alemão apertou o pino e bateu a porta do carona com o motor ainda ligado. Topete bem que tentou avisar, mas não foi tão rápido. Klaus foi à outra porta, que estava obviamente trancada. Uno ligado, todo fechado e com a chave dentro! Mesmo diante do desespero dos dois em descobrir urgentemente como cortar a ignição pelo lado de fora do carro (o Alemão havia acabado de encher o tanque para viagem), admito que fui para um canto e, disfarçando, comecei a rir! Ô situação cômica! Enquanto o dono da Uno corria para dentro do escritório em busca do telefone do chaveiro, eu e Topete, juntamente com as ferramentas da Brasilia (que é velha mas é carro!) desmontávamos o duto de gasolina junto ao filtro do tanque. Devido à alta pressão do sistema, o que fatalmente causaria um "nada econômico" vazamento de gasolina, optamos por remontar tudo e aguardar Klaus e seu chaveiro. O Alemão deve ter ficado ainda mais nervoso quando a previsão de meia hora para a chegada lhe foi informada...
Três cabeças pensantes, resolvemos tentar arrombar a Uno, e com um arame maleável, algumas idéias engenheirísticas e um mínimo de habilidade, literalmente pescamos o pino, abrimos a porta e acabamos com o pandemônio. Aí foi a hora de nós (eu e Topete) caírmos na gargalhada (com Klaus obviamente "bicudo") e sabermos das reações dos colegas que, à esta altura, por conta da ida do Alemão ao escritório, já estavam informados de tudo. Foi o assunto do dia, e não era para menos. Klaus, entre alguns xingamentos, bradava a todos que se mantivessem longe de meu bólido, com o intuito de evitar o que chamou de "a Maldição da Brasília Roxa". Alexandre fez seguidas ligações para o celular do Alemão, ameaçando inclusive abandonar sua folga para participar da festa! Brincamos demais com o cara, pegamos muito no pé dele, rolamos de tanto rir, mas a melhor reação foi a de nosso chefe Pires, transcritas aqui a partir das palavras do próprio Alemão: "Todos estes anos nunca vi o Pires rir tanto assim, deste jeito... e era de mim!"...
Com todo o acontecido, realmente testamos o coração do nosso amigo comedor de chucrute de idade avançada, evidenciado pelos seus cabelos brancos como a barba de Papai Noel. E antes da noite festiva chegar, eu já havia, com sobras, ganho meu presente!

sábado, 12 de dezembro de 2009

A MELHOR MANEIRA DE IR MAIS LONGE

Uma das dificuldades que encontro para bem manter minha Beringela é que não possuo uma garagem ou outro lugar coberto e seguro para guardá-la. No começo, quando morava em Campinas, até tinha esta condição, mas o trabalho ainda estava bem no início. Claro que, com todas as intervenções que tenho feito nela e considerando as várias idas e vindas relatadas neste blog, ela fatalmente tem passado mais tempo em oficinas do que na rua. E morar no Rio de Janeiro ainda me impõe outras situações peculiares sobre dois assuntos, um consequência do outro: falta de segurança de toda ordem (roubo, vandalismo, enchente, etc.) e custo altíssimo para realizar o aluguel de uma garagem. Não se encontra nada por menos de 200 reais mensais, um dinheiro que serviria para se fazer ou adquirir outras coisas mais interessantes. Basta exemplificar da seguinte maneira: quatro meses de garagem (um período nem tão extenso assim) seriam suficientes para cobrir os custos dos bancos elétricos dianteiros e das rodas diamantadas Orbital... Em um ano eu pagaria a última pintura realizada nela.
Como a grana envolvida norteia as possibilidades sobre o carro, optei por abrir mão deste "luxo" e sobreviver sem garagem mesmo. Opção perigosa, diga-se de passagem, pois, como comumente se diz, no "tempo" o carro "se acaba", e o barato pode sair caro. Sol e chuva são inimigos declarados e muito eficientes em seus intentos. Quem sofre principalmente é a pintura, que pode ficar manchada, queimada, danificada de outras formas (graças a Deus chuvas de granizo têm sido raras no Rio) e ser atacada pela sua "amada amante": a ferrugem. O verdadeiro "inferno laranja"...
Depois do sequestro da brasa, ela já foi resgatada nesta condição ruim, com parte da pintura fosca, vários pontos de ferrugem e bolhas, e amassados em outros cantos. E como estas avarias estão "democraticamente" espalhadas pela carroceria, a única solução aceitável é a reforma geral da lata. Aliás, cabe aqui uma promessa, e você será minha testemunha: será a última vez que jogarei tinta neste carro. Três tentativas são mais do que suficientes para esgotar minha paciência e os recursos financeiros "aceitáveis" para a criação do meu "bólido"...
Para mantê-la sem teto porém segura, tenho apelado (admito) para o estacionamento da empresa onde trabalho, a Michelin. E não só porque é seguro e de graça, mas também porque todos os mecânicos e auto-peças de que faço uso na reforma estão em Campo Grande, bairro do subúrbio onde fica a fábrica. E em Campo Grande, os custos são bem inferiores aos da Zona Sul do Rio, onde moro.



Claro que, como tudo que envolve esta Brasilia, situações inusitadas se criam. Em uma delas, havia uma Brasília azul marinho em uma condição bem pior do que a minha, nitidamente abandonada no estacionamento, com lama (poeira + chuva) e folhas literalmente cobrindo o carro. Em verdade, as únicas coisas que se salvavam naquele carro eram as rodas, que mesmo assim já pediam reforma. Depois de longo período de hibernação, a segurança da empresa a retirou de lá, sabe-se lá como... A alegação era de estar criando foco de dengue, na época, o assunto do momento.
Para não "sobrar" para a minha brasa, que co-habitava aquele espaço, decidi aproveitar e levá-la ao eletricista para acertar algumas coisas. E, acredite, a "ditacuja" resolveu estancar no portão de saída da Michelin... Diagnóstico? Falta de gasolina, com o ponteiro marcando mais do que a reserva. E aí a segurança "se fez": pediu meu número de registo, CPF, identidade, ramal, mostrar os documentos da brasa e tudo mais que passava na cabeça do "guardinha". Estava vendo a hora em que iam pedir o endereço da fábrica da Volks e o nome do cara que montou o pisca dianteiro esquerdo em 1978... Depois do já aguardado sermão por manter o carro por longos periodos lá parado, e sem ajuda nenhuma para empurrar a beringela para fora das suas dependências, providenciei a gasolina e fui em frente.
Depois de mais alguns meses de serviços nela, voltamos para a Michelin e seu estacionamento. Agora, com as rodas Orbital instaladas (e, por isto, menos aparência de carro abandonado), a segurança não tem incomodado. Com mais linhas de ônibus disponibilizadas pela empresa para os funcionários, estão sobrando vagas. Porém, como não podem faltar emoções, agora um dos pneus e o estepe esvaziaram... Providenciei um mini-compressor "ching ling" para resolver a situação antes que "os caras" me perturbem. De lá, provavelmente, vou levá-la para trocar seus pneus. Por pneus Michelin, claro. Afinal, como diz o slogan, usar Michelin é a melhor maneira de ir mais longe. Nem que seja para longe de seu estacionamento!...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

NEM TÃO LOUCO ASSIM...

Quando eu relato algumas mudanças que promovi ou promoverei na minha Brasilia, alguns amigos logo me taxam de louco ou, no mínimo, alguém dotado de mal gosto. Ok, gosto, como sempre disse o velho ditado, não se discute mesmo. Nem todos conseguem (e nem precisam) aceitar e apreciar uma pintura roxa, bem como os bancos elétricos, os retrovisores de Honda Fit ou mesmo angel eyes. Mas é fato que, em matéria de Brasilia, eu até que mantenho uma linha de sanidade, principalmente se comparado aos exemplos que encontrei por aí:

Mini-Brasilia: a solução para os problemas de espaço das grandes cidades

Brasilia Baja: a versão nascida naturalmente após o sucesso do Fusca Baja

Brasilia Adventure: apropriada para trilhas leves

Brasilia Off-Road: pronta para encarar qualquer desafio

Brasilia Pick-up: corrigindo um erro histórico da Volks em não lançar uma pick-up pequena antes da Fiat

Brasilia Pick-up II - Versão para feirantes, agricultores e pecuaristas

Brasilia Pick-up Cabine Extendida: se Strada e Saveiro podem, porque não?

Brasilia Obra de Arte: mais uma criação de Andy Warhol?

Brasilia Limousine: nossa Brasa concorrendo com Mercedes e BMW

Brasilia Conversível: ideal para este nosso país ensolarado

Brasilia Conversível II: versão sóbria e requintada, para desfilar na cidade

Brasilia Safari: para um passeio com os gringos pelos encantos (e favelas) do Rio

Brasilia Dragster: o sonho de uma Brasilia a mais de 200 km/h

Brasilia Recycle: enquanto ela mesma não é reciclada, ajuda a reciclar

Como se pode ver, quando o assunto é Brasilia, não sou eu o único louco perdido por aí... Ou vai dizer que minha Beringela não lhe parece agora um carro bem "normal"?...
56 abraços!

sábado, 31 de outubro de 2009

O SEQUESTRO

Este é o capítulo mais triste e angustiante na história da minha Brasilia. É fato que não há relação que não tenha altos e baixos, momentos muito bons e outros bem difíceis. Mas acho que nada supera o que se sente quando corremos o risco de perder algo ou alguém muito querido. É quando uma relação pode chegar ao fim contra a nossa vontade. E foi por isto mesmo que passei.
Minha esposa estava grávida de 6 meses do Vitor, ou seja, estávamos naquele momento de felicidade e espectativa, e que também, ao mesmo passo, exige cuidados. Minha Brasilia estava com a forração do teto e das laterais prontas, e agora restava a montagem, principalmente do para-brisa, para eu dar sequencia ao trabalho. As peças (vidros, para-choques e outras) estavam com o Galo, na sua oficina. Todo o processo junto ao "seu" Adilson (tapeceiro) levou um tempo maior do que o desejado. E foi neste interim que veio a primeira surpresa: Galo e Vampirinho haviam desfeito a parceria e fechado a oficina. E foi assim, sem avisar mesmo. Na base do "ouvi falar" e contando com a ajuda do amigo Jesiel, acabei encontrando Galo dividindo oficina com outro mecânico (de nome André), alguns quilômetros longe da primeira. Felicidade no reencontro, tratei de trazer a Brasa para Galo montar os vidros; afinal, isto estava incluso no valor já pago pelo serviço lanternagem + pintura. Uma semana depois voltei para retirar o carro pronto. E veio a segunda surpresa...
A mecânica onde Galo agora trabalhava era um pequeno galpão bastante modesto para a tarefa de abrigar mecânica e lanternagem. Quando um pequeno acidente aconteceu, com a traseira de um outro carro amassando uma das portas da Beringela, isto ficou mais que evidente. Galo, por sua vez, se comprometeu a levar o carro para sua casa (onde haveria mais espaço) e realizar o "reparo em garantia". Mais duas semanas se passaram, e a pior das surpresas se deu: procurando por Galo na oficina, ninguém (principalmente seu parceiro André) sabia de seu paradeiro.
Faziam mais de dez dias que Galo e minha Brasilia haviam sumido, e ninguém sabia para onde nem o porquê. Ficamos sabendo algum tempo depois que ele havia pego dinheiro com agiotas e não honrado seus compromissos. Como soubemos? Os credores passaram na oficina, ameaçando inclusive levar equipamentos como forma de pagamento. Ou seja, meu carro estava com um cara que devia grana para pessoas perigosas e eu no meio deste "fogo cruzado"...
Perdi alguns domingos procurando por ele, conheci sua mãe e seu irmão, que também não sabiam onde ele estava, e também foram importunados pelos agiotas. Senti pena dela, pois parecia ser boa pessoa e não merecer esta situação. O celular de Galo, obviamente, seguia desligado. Fiz amizade com os vizinhos da oficina, para saber se havia alguém lá sem ter que me deslocar. Conheci a avó de André, outros clientes de Galo e mecânicos amigos em busca de informação. Importunei Vampirinho e outros conhecidos, mas nada de Galo aparecer. Por fim, sua mãe, extremamente revoltada e decepcionada com a situação criada por seu filho, conseguiu contatá-lo por telefone e falar sobre os acontecimentos. Ele estava na casa de um outro mecânico, procurando trabalhar e levantar alguma grana, bem longe dali.
Neste período, todo tipo de sugestão me foi dada: procurar a polícia, colocar uns "caçadores de devedores" para achá-lo, e mesmo desistir de tudo, para não se envolver em situações ainda mais perigosas. Diziam que já deveria ter virado buggy ou ter sido vendida em peças, em algum desmanche. E eu seguia tentando resolver tudo do modo mais honesto possível. Foi quando, em uma das visitas sem esperança à oficina de André, encontrei o mesmo com um dos olhos bem inchado. Pensei logo que os agiotas (que nesta altura sabiámos se tratar de "policiais") haviam voltado e dado uma surra nele. Qual não foi a surpresa, desta vez boa, quando soube o olho ruim era resultado de um cavaco no olho usando o esmeril, e que André tinha uma  novidade boa para mim: Galo havia ligado e dito onde estava a Brasilia. E, pasmem, ela "descansava" mais próxima do que podia se imaginar: na casa dos pais de André. Galo, que era amigo do irmão de André, havia a deixado lá antes de sumir.
O resumo: reencontrei a Brasa roxa portando, além da porta ainda amassada, um "encostão" no bico do capô, um "podre" na chapa de cobertura do motor e vários pontos da "excepcional" pintura de Galo já soltando bolhas... O vidro da porta havia ficado aberto e, no interior da mesma, "laranja" pela água empossada, uma "criação" de aedes aegypti...
E depois de um mês e meio de angústia, preocupado em não causar ansiedade excessiva à minha esposa e meu herdeiro em sua barriga, senti um alívio realmente indescritível. E o "sequestro" da Brasilia roxa, que não teve pedido de resgate, ainda está sendo pago através dos serviços de recuperação da mesma.
Pode ter certeza que sei o que sente quem já teve seu carro roubado, e agora me solidarizo totalmente. Desculpe-me pelo texto longo e tortuoso, mas infelizmente isto também é parte da história "beringélica". E perdão por não ter ilustrado com uma foto tudo que relatei. Afinal, não fiz (e costumo não fazer) questão de registrar de modo fotográfico uma passagem tão dolorosa.

sábado, 24 de outubro de 2009

TINTA II - O RETORNO

Nos meios industriais, entre os engenheiros responsáveis por definir métodos, processos, custos e investimentos, há uma palavrinha que é abominada por todos. Uma verdadeira unanimidade, motivo de vários estudos e proposições para evitar sua presença. Um pesadelo bem real chamado RETRABALHO... Ou, como diz meu chefe, o "bom da segunda vez". E não é difícil entender o porquê. Nestes dias onde tempo e dinheiro são os bens mais escassos, o Retrabalho é um ávido devorador destes, e faz merecer o "R" maiúsculo, como um nome próprio, dada sua importância.
Reformar um carro também é um processo e, como tal, igualmente sujeito a seus desperdícios e Retrabalhos. Só que, neste caso, como não sou uma grande empresa ou possuo fontes inesgotáveis de renda, quando acontece é ainda mais "doído"... Talvez não fosse tão sentido se originado de uma mudança de gosto ou conceito na personalização do "bólido". Mas quando a origem é falta de qualidade no serviço executado (e que voce já considerava caso encerrado), é terrível!
Quando fui retirar a Brasilia da oficina de pintura, ainda em Campinas, o cheiro de tinta tomava conta do carro. Tudo levava a crer que, depois de muito me enrolar, o serviço havia sido feito às pressas, para "livrar a cara" como se diz. O que era uma desconfiança minha se mostrou uma realidade logo quando as primeiras bolhas na tinta apareceram. Os entendidos, ao observar as erupções, diziam ser fruto de umidade que teria ficado sob a tinta e estaria agora aflorando. Ou ainda gordura que não teria sido retirada antes da pintura. O fato é que, em qualquer uma das hipóteses, o descuido e descaso destes "profissionais" me levaram a ter um baita Retrabalho...
Como a minha parcela de culpa era não estar próximo, acompanhando o serviço, tratei de buscar alguém que pudesse estar sempre vendo, seguindo cada passo do "processo pintura". Assim, acabei optando por delegar esta tarefa ao lanterneiro que atendia pela alcunha de "Galo". Galo tinha este apelido em função do personagem dos Looney Tunes, com o peito avantajado contrastando com as pernas mais finas. Ou o que também costumamos chamar de "peito de pombo".


Galo era sócio do meu mecânico Anderson "Vampirinho" na oficina que ficava em frente ao meu trabalho. Deste modo (teoricamente) estaria resolvido o problema de acompanhamento do serviço. Além disso, Galo dizia ter participado de treinamentos promovidos por fabricantes de tintas, o que o credenciava (também teoricamente) como um bom profissional.
O fato é que eu, apesar da experiência anterior ruim, ainda me "dei ao luxo" de cometer alguns equívocos. O primeiro: não acompanhar um trabalho anterior completo feito por Galo. Se tivesse feito isto, talvez teria percebido que grande parte do serviço (principalmente a parte mais pesada) era delegada aos "aprendizes" dele, e a rotatividade dos aprendizes era alta. Teria visto também a sujeira do local, apesar do fato de existir uma "estufa" (uma sala mal fechada dotada de algumas lâmpadas incandecentes) para secagem. E isto misturado ao ambiente pequeno, bagunçado e compartilhado de mecânica, lanternagem e pintura.
Outra "falha nossa" foi não ter toda a grana na mão, o que me fez propor um parcelamento e resultou no pagamento quitado antes do término do serviço. E a partir deste ponto, Galo passaria a colocar os outros serviços menores na frente do meu, para levantar dinheiro. E como voce verá mais tarde, gestão de recursos financeiros não é propriamente "o forte" do Galo...
Apesar dos pesares, achei que tudo andava bem ou, melhor dizendo, vagarosamente bem. Havia comprado pessoalmente os produtos usados no trabalho (marca PPG, de renome), as chapas que ele encomendava me pareciam de boa procedência, e tudo era executado em uma sequência lógica.
Chegando no momento da montagem, fui orientado a mandar fazer a forração do teto e das colunas antes da colocação dos vidros e borrachas. Me pareceu correto e, com a dica de um cliente do eletricista Gilberto (que havia reformado um Karmann-Ghia), procurei o senhor Adilson. Apesar de algumas "pelejas" sobre a cor e o material do teto, ele realizou um serviço de bom nível. Houveram algumas dificuldades, por assim dizer, "logísticas" para levar o carro ao "seu" Adilson: tinha que ser em dias de bom tempo (a Brasa estava sem vidros), sem policia na rua (fatalmente parariam aquele "esqueleto" de carro) e sem trabalho (ou seja, somente aos sábados). Isto, juntado ao tempo para execução do serviço, foi suficiente para que umas surpresas se armassem no horizonte. Mas estas surpresas (e seus desdobramentos) merecem um post exclusivo...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

UMA BRASILIA "INTERNACIONAL"

Minha Brasilia é um carro "internacional". E não digo isto por saber que a Brasilia 4 portas foi um carro criado, prioritariamente, para exportação. De fato, isto aconteceu: desde 1974 era produzida e exportada para vários países, como Nigéria, Uruguai, Filipinas, Argélia, África do Sul e Portugal. Em alguns desses recebeu o "lindo" nome de VW Igala... Gostos à partem, hoje, independente do número de portas, Brasilias podem ser encontradas em diversos lugares ao redor do mundo, como Argentina, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos e México, este último o único país que a produziu, além do Brasil. Contudo, da terra do nacho, chili e guacamole só saíram brasas de duas portas. Azar deles...
O fato é que me refiro à Beringela como "internacional" pela origem dos itens que a compõem. Já mencionei aqui os vidros enviados de Florianópolis com direito a barata vitaminada de "brinde"... Mas Floripa é "logo ali" se comparado com a origem dos bancos elétricos de Tempra que adquiri via ML (Mercado Livre): eles estavam montados em um Santa Matilde de um feliz proprietário morador de... Belém do Pará! A distância rodoviária entre Rio e Belém é da ordem de 3500 quilômetros... Não por acaso, achei os 100 reais da transportadora (do total de 400 gastos na brincadeira) uma verdadeira pechincha. O banco do motorista veio sem o apoio de braço. Alguém se dispõe a rodar este tanto para ir lá procurá-lo??
Por outros 400 reais obtive as rodas diamantadas modelo Orbital aro 14. O curioso, neste caso, não foi tanto a origem (Osasco-SP), mas a ajuda promovida por uma grande amiga, responsável pelas remessas de uma transportadora paulista. Ela realizou a coleta e, na entrega, feita no estacionamento da empresa onde trabalho, me impressionou o cuidado dispensado aos aros: embalagens de plástico-bola individuais e, apesar da chuva chata que caía, nem uma gota d'água em contato com as rodas.


Outro caso foi mais, por assim dizer, "emocionante" de se tratar. Talvez voce não saiba que as maçanetas da Brasilia 4 portas são originais do Passat LSE que seria, em versão remodelada, posteriormente exportado para o Iraque. O fato é que a minha Brasilia, em mais um dos mistérios que rondam este carro, veio com  maçanetas dianteiras (com furo para chave) no lugar das traseiras. Resgatando a originalidade do carro, apelei mais uma vez para o ML, onde encontrei as devidas nas mãos de um vendedor em Manaus. Negociação concretizada, pagamento feito e... uma demora angustiante. Um e-mail, dois e-mails e nada. Por fim, depois de um mês de espera tive que recorrer mesmo a um interurbano. Nervoso que estava, comecei o papo com "dois quentes, três fervendo" até ouvir sua história: seu irmão havia sofrido um acidente, capotado o carro e, depois de longo tempo no hospital, veio a falecer. Com tudo isto, o vendedor pediu desculpas e se comprometeu a enviar minha encomenda junto com as que estava devendo aos demais clientes. Preciso dizer o quão "sem jeito" fiquei com a situação toda? E mais alguns dias chegaram as maçanetas...
Menos trágico e mais curioso é o fato de um dos retrovisores de Honda Fit com pisca (ML mais uma vez) ter sido encontrado no porta-malas do carro recém-adquirido pelo vendedor. Ou seja, ele e (muito menos) eu não temos a menor idéia da origem da peça. Rio, Salvador, Paris, Botswana??? Sabe-se lá...
Sob outros olhares, pode-se dizer que a Beringela se torna "internacional" conforme se torna conhecida por pessoas de várias localidades nos fóruns que participo (como o Fusca Brasil - http://www.forumfuscabrasil.com/), por aqueles que lêem este blog, e pelos parceiros de outros blogs de mesmo tema, como o amigo "Mermo", dono da gloriosa Madame 75, e sua carinhosa postagem (veja em http://vwbr.blogspot.com/2009/09/dificeis-de-serem-vistas.html).
Agora, de internacional mesmo, literalmente falando, são três itens que trouxe de uma viagem a trabalho à França: um MP3 player de uma marca "super conhecida" (Tokai) made in France, um conjunto de piscas-leds para os bicos dos pneus e um curioso display medidor de temperatura interna e externa, que deve "casar" bem com o ar condicionado da brasa roxa.
Como se vê, não só de componentes tupiniquins se faz um carro com um nome pra lá de patriótico...