Não se espante com o título: este capítulo é mais hilário do que trágico, e mostra a incrível capacidade de minha Beringela atrair histórias. Devidamente estacionada no pátio da Michelin aguardando seu dono ter um mínimo de grana e tempo para dar-lhe um trato, o já mencionado veículo resolve "antecipar" as coisas e, para isto, chamar atenção: eis que, "por encanto", surge o pneu traseiro esquerdo vazio... Como o estepe encontra-se furado, depois de avisado por meus colegas da situação vigente, providenciei para o trabalho um mini-compressor Schulz (conhecida marca alemã, porém produzido na China... vai entender!). Havia uma segunda dificuldade: minha Brasilia (assim como todas as que conheço) originalmente não possui isqueiro. Logo, não teria como ligar o compressor nela.
Para auxiliar nesta parte, prontificou-se meu amigo e colega Rogério, mais conhecido como "Topete" devido ao seu penteado, por assim dizer, "exótico". Ele, que tem utilizado de grande esmero na reforma de seu Puminha "Tubarão", dispôs de seu Gol "bolinha" (meio "baleado", é bem verdade) para a tarefa. Data e hora marcada, fomos nós para a operação de "resgate". E começam as surpresas... Primeiro, o compressor, ligado no isqueiro, nem deu sinal de vida... Após fazermos um teste, concluímos que o isqueiro (e não o compressor) estava inoperante. E, de quebra, além de não enchermos o pneu, ainda fomos obrigados a trocar um do Golzinho, que estava "no chão". Mas não pense voce que o título veio tão somente deste evento. O melhor ainda estava por vir...
Segunda tentativa! Véspera de Natal, trabalhando naquele dia ingrato de quatro horas lá e quatro no trânsito, contamos com a "colaboração" da rede de computadores fora do ar para termos tempo para a nova missão. Esta foi a vez de Klaus Riebold (vulgo "Alemão") prontificar-se com sua Uno. (Nota da redação: nos referimos a "sua Uno" e não ao "seu carro Uno", uma vez que, por princípio -- e especialmente bom senso -- Uno não é carro, Uno é Fiat...). Topete resolveu acompanhar-nos e igualmente prestar auxílio.
Já estacionada ao lado da Brasa, Klaus abriu a porta do passageiro, ligamos o plug no isqueiro, colocamos o compressor sobre a Uno e Topete resolveu ligá-lo para teste. Temi pela saúde do Alemão: a barulheira (algo similar a uma britadeira) sobre o teto prata da Uno fez o coração germânico de meu colega disparar! E sob os berros de "tira esta p.... do meu teto", Topete conseguiu desligar o aparelho e acabar com o estardalhaço... Tinhamos um notável "compressor-cabrito" na mão, um ser que, quando em ação, andava sozinho!
A operação de encher o pneu foi, em si, um sucesso. Tentamos ainda com o estepe que, pelo jeito, está mesmo furado. Desmontamos o aparato, guardamos tudo e, tentando fazer graça, o Alemão ainda deu a partida na Uno e se mostrou "extremamente aliviado", como se cinco minutinhos de mini-compressor fossem capazes de descarregar uma bateria. E foi nesta hora que apresentou-se a "cereja do bolo"...
Imaginando ter entrado pela porta do motorista, Alemão apertou o pino e bateu a porta do carona com o motor ainda ligado. Topete bem que tentou avisar, mas não foi tão rápido. Klaus foi à outra porta, que estava obviamente trancada. Uno ligado, todo fechado e com a chave dentro! Mesmo diante do desespero dos dois em descobrir urgentemente como cortar a ignição pelo lado de fora do carro (o Alemão havia acabado de encher o tanque para viagem), admito que fui para um canto e, disfarçando, comecei a rir! Ô situação cômica! Enquanto o dono da Uno corria para dentro do escritório em busca do telefone do chaveiro, eu e Topete, juntamente com as ferramentas da Brasilia (que é velha mas é carro!) desmontávamos o duto de gasolina junto ao filtro do tanque. Devido à alta pressão do sistema, o que fatalmente causaria um "nada econômico" vazamento de gasolina, optamos por remontar tudo e aguardar Klaus e seu chaveiro. O Alemão deve ter ficado ainda mais nervoso quando a previsão de meia hora para a chegada lhe foi informada...
Três cabeças pensantes, resolvemos tentar arrombar a Uno, e com um arame maleável, algumas idéias engenheirísticas e um mínimo de habilidade, literalmente pescamos o pino, abrimos a porta e acabamos com o pandemônio. Aí foi a hora de nós (eu e Topete) caírmos na gargalhada (com Klaus obviamente "bicudo") e sabermos das reações dos colegas que, à esta altura, por conta da ida do Alemão ao escritório, já estavam informados de tudo. Foi o assunto do dia, e não era para menos. Klaus, entre alguns xingamentos, bradava a todos que se mantivessem longe de meu bólido, com o intuito de evitar o que chamou de "a Maldição da Brasília Roxa". Alexandre fez seguidas ligações para o celular do Alemão, ameaçando inclusive abandonar sua folga para participar da festa! Brincamos demais com o cara, pegamos muito no pé dele, rolamos de tanto rir, mas a melhor reação foi a de nosso chefe Pires, transcritas aqui a partir das palavras do próprio Alemão: "Todos estes anos nunca vi o Pires rir tanto assim, deste jeito... e era de mim!"...
Com todo o acontecido, realmente testamos o coração do nosso amigo comedor de chucrute de idade avançada, evidenciado pelos seus cabelos brancos como a barba de Papai Noel. E antes da noite festiva chegar, eu já havia, com sobras, ganho meu presente!