sábado, 24 de outubro de 2009

TINTA II - O RETORNO

Nos meios industriais, entre os engenheiros responsáveis por definir métodos, processos, custos e investimentos, há uma palavrinha que é abominada por todos. Uma verdadeira unanimidade, motivo de vários estudos e proposições para evitar sua presença. Um pesadelo bem real chamado RETRABALHO... Ou, como diz meu chefe, o "bom da segunda vez". E não é difícil entender o porquê. Nestes dias onde tempo e dinheiro são os bens mais escassos, o Retrabalho é um ávido devorador destes, e faz merecer o "R" maiúsculo, como um nome próprio, dada sua importância.
Reformar um carro também é um processo e, como tal, igualmente sujeito a seus desperdícios e Retrabalhos. Só que, neste caso, como não sou uma grande empresa ou possuo fontes inesgotáveis de renda, quando acontece é ainda mais "doído"... Talvez não fosse tão sentido se originado de uma mudança de gosto ou conceito na personalização do "bólido". Mas quando a origem é falta de qualidade no serviço executado (e que voce já considerava caso encerrado), é terrível!
Quando fui retirar a Brasilia da oficina de pintura, ainda em Campinas, o cheiro de tinta tomava conta do carro. Tudo levava a crer que, depois de muito me enrolar, o serviço havia sido feito às pressas, para "livrar a cara" como se diz. O que era uma desconfiança minha se mostrou uma realidade logo quando as primeiras bolhas na tinta apareceram. Os entendidos, ao observar as erupções, diziam ser fruto de umidade que teria ficado sob a tinta e estaria agora aflorando. Ou ainda gordura que não teria sido retirada antes da pintura. O fato é que, em qualquer uma das hipóteses, o descuido e descaso destes "profissionais" me levaram a ter um baita Retrabalho...
Como a minha parcela de culpa era não estar próximo, acompanhando o serviço, tratei de buscar alguém que pudesse estar sempre vendo, seguindo cada passo do "processo pintura". Assim, acabei optando por delegar esta tarefa ao lanterneiro que atendia pela alcunha de "Galo". Galo tinha este apelido em função do personagem dos Looney Tunes, com o peito avantajado contrastando com as pernas mais finas. Ou o que também costumamos chamar de "peito de pombo".


Galo era sócio do meu mecânico Anderson "Vampirinho" na oficina que ficava em frente ao meu trabalho. Deste modo (teoricamente) estaria resolvido o problema de acompanhamento do serviço. Além disso, Galo dizia ter participado de treinamentos promovidos por fabricantes de tintas, o que o credenciava (também teoricamente) como um bom profissional.
O fato é que eu, apesar da experiência anterior ruim, ainda me "dei ao luxo" de cometer alguns equívocos. O primeiro: não acompanhar um trabalho anterior completo feito por Galo. Se tivesse feito isto, talvez teria percebido que grande parte do serviço (principalmente a parte mais pesada) era delegada aos "aprendizes" dele, e a rotatividade dos aprendizes era alta. Teria visto também a sujeira do local, apesar do fato de existir uma "estufa" (uma sala mal fechada dotada de algumas lâmpadas incandecentes) para secagem. E isto misturado ao ambiente pequeno, bagunçado e compartilhado de mecânica, lanternagem e pintura.
Outra "falha nossa" foi não ter toda a grana na mão, o que me fez propor um parcelamento e resultou no pagamento quitado antes do término do serviço. E a partir deste ponto, Galo passaria a colocar os outros serviços menores na frente do meu, para levantar dinheiro. E como voce verá mais tarde, gestão de recursos financeiros não é propriamente "o forte" do Galo...
Apesar dos pesares, achei que tudo andava bem ou, melhor dizendo, vagarosamente bem. Havia comprado pessoalmente os produtos usados no trabalho (marca PPG, de renome), as chapas que ele encomendava me pareciam de boa procedência, e tudo era executado em uma sequência lógica.
Chegando no momento da montagem, fui orientado a mandar fazer a forração do teto e das colunas antes da colocação dos vidros e borrachas. Me pareceu correto e, com a dica de um cliente do eletricista Gilberto (que havia reformado um Karmann-Ghia), procurei o senhor Adilson. Apesar de algumas "pelejas" sobre a cor e o material do teto, ele realizou um serviço de bom nível. Houveram algumas dificuldades, por assim dizer, "logísticas" para levar o carro ao "seu" Adilson: tinha que ser em dias de bom tempo (a Brasa estava sem vidros), sem policia na rua (fatalmente parariam aquele "esqueleto" de carro) e sem trabalho (ou seja, somente aos sábados). Isto, juntado ao tempo para execução do serviço, foi suficiente para que umas surpresas se armassem no horizonte. Mas estas surpresas (e seus desdobramentos) merecem um post exclusivo...

Um comentário:

mundofusca disse...

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